Ir ao Psicólogo
Se pedir ajuda é difícil, aceitá-la ainda pode ser mais. Sobretudo se nos sugerirem ir a um Psicólogo… então os Psicólogos não são para os malucos?
Não, não são. Os Psicólogos são para qualquer pessoa que precise de ajuda a resolver problemas que tenham a ver com os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. E já sabemos que toda a gente tem problemas e pode, nalgum momento da sua vida, precisar de ajuda. Tal como toda a gente pode precisar de ir ao Médico, toda a gente pode precisar de ir ao Psicólogo.
Os Psicólogos são especialistas nos pensamentos, sentimentos e comportamentos das pessoas. Podem ajudar pessoas de todas as idades – crianças, adolescentes, adultos ou idosos. E ajudam-nos a compreender os nossos sentimentos, a resolver problemas (pequenos e grandes), a lidar com situações difíceis ou com qualquer preocupação que tenhamos. O trabalho do Psicólogo é ajudar as pessoas a sentirem-se melhor.
Por exemplo, os Psicólogos podem ajudar-nos a lidar com características da nossa personalidade ou do nosso pensamento que parecem pouco flexíveis e que interferem negativamente na nossa relação com os outros. Podem ajudar-nos a desenvolver competências para resolver problemas, para sermos assertivos no seio de um grupo, ou para nos sentirmos mais confiantes numa apresentação em público. Ou podem ajudar-nos a melhor compreender os nossos sentimentos e as situações que os podem estar a causar, a tomar consciência dos nossos padrões de comportamento ou das nossas grelhas de pensamento e da interferência que estes sentimentos, comportamentos ou pensamentos têm no nosso dia-a-dia.
Os Psicólogos também nos podem ajudar quando existem situações difíceis na nossa vida ou quando necessitamos tomar decisões complicadas. Por exemplo, o divórcio dos nossos Pais, a morte de alguém de quem gostávamos, o fim de um namoro ou de uma amizade, a mudança de escola. Quando o Psicólogo nos escuta, compreende o que estamos a passar, ajuda-nos a refletir em conjunto, a aprofundar o conhecimento que temos de nós próprios, dos outros, ou da situação difícil pela qual estamos a passar. Em conjunto connosco, o Psicólogo ajuda-nos a desenvolver novas formas de lidar com as situações, a encontrar soluções alternativas e até criativas e ajuda-nos na tomada de decisões informadas, que nos fazem sentir mais apoiados e mais confiantes para enfrentar o futuro.
Os Psicólogos podem ainda ajudar-nos com as decisões acerca dos nossos percursos de formação e de carreira e no desenvolvimento de competências de procura ativa de formação ou de emprego, em projetos de empreendedorismo ou na transição de ciclo, de escola e na preparação para a vida universitária ou profissional.
Na verdade, não é preciso ter um problema para ir ao Psicólogo. Por exemplo, se o nosso objetivo for aprofundar o nosso autoconhecimento, melhorar a nossa autoestima, melhorar a relação e comunicação com os outros, estabelecer objetivos de mudança ou definir projetos de vida, um Psicólogo também nos pode ajudar.
Seja qual for o nosso problema, um Psicólogo pode ajudar-nos a encontrar formas mais eficazes de o resolver e de tirarmos disso proveito para situações futuras.
O que podemos esperar de um Psicólogo?
Quando vamos ao Psicólogo podemos sentar-nos a falar com ele, mas também podemos ficar em silêncio sempre que quisermos. Só precisamos de lhe dizer o que tivermos vontade e tudo o que lhe dissermos é confidencial, ou seja, ele não pode contar a ninguém. Nem aos nossos pais? Se tiverem sido os nossos Pais a levar-nos ao Psicólogo é provável que o Psicólogo queira falar com eles. O que ele lhes conta ou não é uma coisa que podemos discutir logo na primeira consulta com o Psicólogo e para a qual temos de dar permissão. No entanto, normalmente, a não ser que digamos ao Psicólogo algo que pode pôr em risco a nossa vida (ou a vida de outras pessoas) o que for dito na consulta fica apenas entre os dois.
O Psicólogo vai pedir-nos que falemos sobre nós, mas não está interessado apenas naquilo em que temos dificuldade. Também quer saber sobre as coisas boas da nossa vida, as coisas em que somos bons e o que gostamos de fazer para nos divertirmos.
Ir ao Psicólogo pode significar aprender muito sobre nós próprios, encontrar formas de ultrapassar as nossas dificuldades, desenvolver qualidades e competências ou fazer mudanças em nós próprios/na nossa situação.
Durante o tempo que estivermos com o Psicólogo (normalmente não é mais do que 50 minutos) ele pode ensinar-nos coisas sobre os nossos sentimentos e como lidar com eles. Pode também ajudar-nos a darmo-nos bem com outras pessoas e a praticar as coisas que temos de melhorar.
Pode levar algumas consultas até nos sentirmos à vontade para partilhar coisas pessoais. Mas isso é normal, afinal não conhecemos o Psicólogo de lado nenhum, é preciso primeiro estabelecer uma relação de confiança com ele.
Podemos ver o nosso Psicólogo todas as semanas, de 15 em 15 dias ou uma vez por mês. À medida que nos formos sentindo melhor/atingindo os nossos objetivos, vamos vendo o Psicólogo cada vez menos vezes até o deixarmos de ver.
Pedir Ajuda
Pedir ajuda é difícil. Quando somos adolescentes queremos muito ser independentes e resolver os nossos problemas sozinhos. Mas é normal sentir que precisamos de ajuda. Acontece a toda a gente – crianças, adolescentes e adultos – sentir que precisa ajuda para resolver um problema ou para dividir uma preocupação.
Na verdade, toda a gente já sentiu que precisava de ajuda em algum momento. Para percebermos melhor o que estamos a sentir, para resolver um problema, dividir uma preocupação ou porque precisamos de apoio para tomar decisões em momentos importantes da nossa vida.
E se demorarmos muito a pedir ajuda os nossos problemas podem aumentar em vez de diminuir, podemos perder o sono, não nos conseguirmos concentrar na escola e até deixarmos de sentir prazer com coisas que sempre nos alegraram.
Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, pelo contrário, é um sinal de que somos fortes, confiantes e temos maturidade. Sabemos do que precisamos e não temos receio de procurá-lo. Podemos beneficiar muito dessa ajuda.
Sempre que precisarmos de pedir ajuda, não precisamos de sentir medo ou vergonha. Às vezes podemos pensar que vamos estar a sobrecarregar os outros – que também têm os seus próprios problemas – ou ter receio do que os outros vão pensar sobre nós. Mas, a verdade é que toda a gente precisa de ajuda de vez em quando. Para além disso, ajudar e aceitar ajuda pode até ajudar a fortalecer relações. Por exemplo, toda a gente se sente bem quando ajuda um amigo!
Devemos, contudo, ter cuidado com as pessoas a quem pedimos ajuda. Deve ser alguém em quem confiemos, para que possamos partilhar os nossos sentimentos com alguém que nos ouve e se preocupa (e não com alguém que nos julga, critica ou culpa). A quem podemos pedir ajuda? Aos nossos Pais, irmãos, outros familiares, a amigos em quem confiemos, a um Professor ou ao Psicólogo da escola.
Era muito mais fácil se alguém reparasse que precisamos de ajuda e viesse ter connosco, não era? Mas nem sempre isso acontece, até porque não é fácil perceber o que se passa na cabeça das outras pessoas quando elas não falam sobre isso… (mesmo que essas pessoas sejam da nossa família ou amigos próximos!). É importante pedirmos claramente ajuda: “estou a ter problemas com isto, ajudas-me?”, “não me tenho sentido bem, posso falar contigo?”.
Falar com outra pessoa pode ajudar-nos a ver as coisas de forma diferente ou a descobrir soluções ou coisas positivas nas quais ainda não tínhamos pensado. A pessoa com quem falamos até pode já ter passado por uma situação semelhante à nossa e ter algum conselho para nos dar. Pode saber exatamente o que fazer para nos ajudar ou conhecer alguém que consiga.
É importante saber que quando pedimos ajuda a alguém só temos de lhe contar o que lhe quisermos contar!
Nota: porque é tão importante e tão difícil pedir ajuda não devemos hesitar em oferecer a nossa ajuda a alguém se acharmos que precisa. Dar e receber ajuda ajudam-nos a desenvolver qualidades como a generosidade e a empatia e permitem-nos compreender melhor os outros.
Como pedir ajuda?
Primeiro devemos escolher a pessoa a quem pedir ajuda. Devemos escolher alguém com quem nos sintamos bem e à vontade, em quem confiemos. Essa pessoa pode ser um dos nossos amigos, Pais, mas também pode ser outro adulto, como um Professor ou o Psicólogo da escola. Às vezes, pode parecer mais fácil falar com pessoas que não nos conheçam, com quem possamos contar a nossa história desde o princípio e, nesse caso, podemos pedir aos nossos Pais que nos levem a um Psicólogo.
Depois devemos escolher uma boa altura e um bom sítio (com tempo, onde possamos estar à vontade, sem medo de sermos interrompidos ou de outras pessoas ouvirem a nossa conversa).
Podemos pensar o que queremos, qual é o nosso objetivo? Queremos apenas desabafar sobre os nossos sentimentos e emoções? Precisamos de ajuda prática para resolver um problema? Quando pedirmos ajuda a alguém podemos começar por dizer qual é o nosso objetivo.
Se receamos não saber explicar bem o que se passa connosco, podemos experimentar escrever num papel e levar esse papel connosco, para nos ajudar.
Se não sabemos bem como começar, podemos dizer “Quero contar-te uma coisa, mas não sei bem por onde começar…”, “É difícil para mim dizer isto, mas tenho uma coisa importante para contar” ou “preciso de pedir a tua ajuda para uma coisa que me anda a preocupar”.
Pedir ajuda pode fazer-nos sentir melhor. Teremos alguém com quem dividir as nossas preocupações!
PROCURAR AJUDA
Perder Alguém
Pode ser a primeira vez na vida que perdes alguém muito importante na tua vida. Ou pode já ter acontecido. É sempre muito difícil, sobretudo quando na nossa própria vida estamos a passar por uma fase com grandes desafios pessoais, emocionais e sociais.
O “luto” e a dor de perder alguém correspondem aos sentimentos e emoções que experimentamos quando alguém morre. Estes sentimentos são normais, mas a forma como nos afectam e a sua duração depende de vários factores (por exemplo, da nossa personalidade, da nossa família, da forma como a pessoa morreu e da nossa experiência anterior com a morte).
Não existe uma forma “certa” ou “errada” de nos sentirmos ou comportarmos quando sofremos a perda de alguém. Permitirmo-nos sentir zangados e tristes, chorar ou falar sobre a pessoa que morreu, pode ajudar. Mas pessoas diferentes lidam com a perda de alguém de forma diferente.
A dor provocada pela morte de alguém afecta-nos de forma diferente. Primeiro podemos sentir que o nosso mundo se despedaçou – as coisas que fazemos, as pessoas que vemos e os sítios onde vamos podem parecer-nos estranhos e não familiares. Pequenas coisas podem lembrar-nos imediatamente da pessoa que morreu e pode ser difícil conseguirmos pensar noutra coisa. Pode parecer que deixamos de ter controlo sobre a nossa vida e essa sensação, embora normal, é assustadora.
A zanga e um sentimento de injustiça também podem ser comuns quando alguém morre – “porquê aquela pessoa?! Não é justo!”. Podemos perguntar-nos “porque é que isto me aconteceu?” e sentirmos raiva do mundo ou mesmo da pessoa que morreu. Ou simplesmente zangados, no geral. A zanga e a raiva são normais desde que não nos magoemos a nós próprios ou alguém. Pode ajudar fazer desporto, esmurrar uma almofada ou gritar.
Embora a tristeza seja a emoção mais associada à dor de perder alguém, ela pode tomar várias formas. Podemos sentir que alguma coisa falta na nossa vida ou podemos preocupar-nos com o futuro. Nem sempre sentirmo-nos triste significa sermos capazes de chorar. Pode ser difícil para nós chorar ou sentirmo-nos desconfortáveis em chorarmos à frente de outras pessoas.
A perda de alguém também nos pode fazer sentir sozinhos. Até falar com amigos pode ser difícil. Pode parecer que ninguém vai entender como nos sentimos. Ou, por outro lado, podemos desejar ficar sozinhos, sem ninguém por perto.
Não é incomum sentirmo-nos aliviados quando alguém morre, sobretudo se a pessoa estava muito doente e a sofrer. Esta reacção é normal e não significa que somos pessoas “más” ou “insensíveis”.
O arrependimento também é comum e pode ser um sentimento muito perturbador. Podemos preocupar-nos com coisas que dissemos ou fizemos (ou deixámos por dizer e por fazer) e culparmo-nos por não termos sido melhores com a pessoa que morreu. O arrependimento é natural e devemos aceitá-lo e não sermos muito duros connosco próprios.
A morte de alguém muito próximo também nos pode confrontar com questões sobre o sentido da vida e com as nossas próprias crenças. Isso pode levar-nos a beber, consumir drogas ou a ter outros comportamentos de risco. Embora isso possa ser compreensível é fundamental mantermo-nos seguros.
Na verdade, sobretudo nos primeiros dias depois de perdermos alguém importante na nossa vida, podemos até não sentir nada. Pode ser tão difícil acreditar e aceitar o que aconteceu que nem conseguimos perceber o que sentimos. Esta sensação é muito confusa, mas normalmente acaba por passar. Se persistir é importante procurar ajuda.
A morte de alguém também nos pode provocar dor física. O nosso corpo reage aos nossos sentimentos intensos e podemos notar alguns sintomas físicos. Por exemplo:
- Cansaço e exaustão avassaladoras. Até as tarefas mais simples e diárias – levantar, ir para a escola, falar com outras pessoas – nos podem parecer um esforço enorme;
- Inquietação, não conseguirmos parar quietos;
- Dores de cabeça, dor no peito;
- Ataques de ansiedade;
- Dificuldade em respirar;
- Perda de apetite ou comer em excesso;
- Dificuldade em adormecer ou medo de ir dormir;
- Dificuldades de concentração.
Nos dias, semanas e meses que se seguem à morte de alguém importante para nós o mais provável é que passemos muito tempo a pensar nela. Podemos pensar sobre a forma como contribuiu para a nossa vida, o que significava para nós ou como mudámos depois da sua morte. Podemos questionar o sentido da vida e procurar um significado naquilo que aconteceu. Nalguns dias as coisas parecerão um pouco melhores, noutros podemos sentir-nos horrivelmente mal. Podemos pensar se algum dia seremos capazes de recuperar.
O luto é um processo. Não pára de repente. É um processo saudável de adaptação a uma nova realidade através do qual encontramos formas de lidar com o que aconteceu. Isso não significa esquecer a pessoa que morreu: nunca a esqueceremos. No entanto, à medida que o tempo passa podemos começar a aceitar o que aconteceu e a encontrar de novo sentido na nossa vida. É natural começarmos a sentir-nos gradualmente melhor.
O que nos pode ajudar a fazer um luto saudável?
- Falar com alguém. Encontrar as palavras para exprimir o que sentimos pode ser difícil e se calhar nem toda a gente vai entender, mas também podemos ficar surpreendidos com pessoas que nos querem realmente ajudar, embora possam não saber muito bem como.
- Escrever sobre o que sentimos (por exemplo, escrever uma carta à pessoa que morreu).
- Chorar, se tivermos vontade. Chorar não é um sinal de fraqueza e podemos sentir algum alívio depois de chorar.
- Participar nos rituais de luto. O funeral ou encontros com amigos e família podem ajudar-nos a sentir mais apoiados e a lidar com a perda. Mesmo que não nos apeteça falar, o simples facto de estarmos com outras pessoas que também gostavam da pessoa que morreu, pode ajudar a não nos sentirmos tão sozinhos.
- Cuidar do nosso corpo. Dormir bem e comer bem, mesmo que não nos apeteça, o nosso corpo continua a precisar de ambas as coisas. Devemos evitar comer em excesso ou recorrer ao álcool para “acalmar” a nossa dor. Fazer exercício físico sozinhos (por exemplo, correr ou nadar) ou em grupo (por exemplo, jogar futebol ou basquetebol).
- Fazer o que nos parece melhor. As outras pessoas podem tentar dar-nos conselhos, mas nem todos serão os mais certos para nós. Devemos fazer o que acharmos que nos faz sentir melhor ou pedir uma segunda opinião a um adulto em quem confiemos.
- Manter viva a memória da pessoa que morreu. Podemos querer fazer alguma coisa para celebrar a memória da pessoa que morreu e mantê-la viva na nossa vida. Por exemplo, podemos escrever, ver fotos ou vídeos da pessoa, fazer uma playlist com as músicas de que gostava, ir ao cemitério deixar flores, ou marcar os aniversários com uma actividade especial.
- Passar momentos descontraídos e alegres. Quando alguém morre podemos sentir-nos culpados quando rimos ou estamos alegres, por a nossa vida continuar depois da de alguém que era tão importante para nós ter terminado. No entanto, é importante tentarmos passar momentos de descontracção com os nossos amigos e rirmos quando podermos.
- Voltar às nossas rotinas. Depois de perdermos alguém voltarmos às nossas rotinas, a ir à escola todos os dias, pode parecer totalmente sem sentido e ser muito difícil. Mas pode ajudar.
Às vezes, os sentimentos de dor pela perda de alguém não ficam mais fáceis de suportar e continuamos a sentir-nos tristes ou até mais tristes à medida que o tempo passa. Podemos sentir que não aceitamos que a pessoa morreu, ter dificuldade em confiar nos outros, não nos sentirmos bem com o facto de a nossa vida continuar a acontecer, sentirmo-nos afastados e desligados das pessoas que nos eram próximas, não encontrar sentido em continuar a viver e achar que nunca mais seremos capazes de sermos felizes. Pode continuar a ser difícil fazer as actividades normais diárias, podemos consumir álcool ou outras drogas para “fugir” aos nossos sentimentos de dor ou podemos até pensar em suicídio.
Se, após seis meses continuamos sem nos sentirmos melhor devemos falar com alguém (um familiar, um Professor ou o Psicólogo da escola) e procurar ajuda. Às vezes a nossa dor é demasiado intensa para conseguirmos lidar com ela sozinhos. Um Psicólogo pode ajudar-nos a lidar com a dor de perder alguém e a recuperar a nossa vida.
Suicídio
Ser adolescente não é fácil. São muitas pressões sociais, escolares e pessoais. E para os adolescentes que têm de lidar com outros problemas (como viver num ambiente violento ou abusivo) a vida pode ser ainda mais difícil. Alguns adolescentes preocupam-se com a sua sexualidade e relações, receiam que os seus sentimentos ou atracções não sejam normais ou questionam-se se serão algum dia amados e aceites. Outros lutam com problemas da sua imagem corporal ou comportamento alimentar. Outros ainda têm problemas de aprendizagem ou atenção que criam obstáculos ao sucesso escolar, podem sentir-se desapontados consigo próprios ou sentir que são uma desilusão para os outros.
Todos estes problemas podem ser muito complicados de gerir e fazer-nos sentir sem apoio e sem esperança de os conseguirmos resolver.
Quando vivemos muitas perdas, nos sentimos um fracasso, sobrecarregados por problemas pessoais ou familiares, ou mesmo sem sabermos bem porquê, podemos ficar presos na nossa dor e acreditar que não existem soluções para os nossos problemas. Sentimo-nos impotentes para mudar a nossa vida e a ideia de morrer, de suicídio, pode dar-nos a ilusão de algum conforto e controlo sobre a situação.
Os pensamentos e sentimentos suicidas também podem ser aterrorizantes. Quando já não conseguimos ver nenhum propósito ou sentido em continuarmos a viver, os nossos sentimentos podem parecer insuportáveis. Podemos odiar-nos e acreditar que somos inúteis, que não fazemos falta a ninguém e que ninguém gosta e se importa realmente connosco. Podemos sentir raiva, vergonha e culpa.
Para alguns adolescentes, o motivo que os levou a tentar suicidar-se foi tentar escapar de uma situação que lhes parecia impossível serem capazes de resolver ou para ter algum alívio de pensamentos e sentimentos muito negativos e dolorosos. Outros procuravam escapar de sentimentos de rejeição ou perda, sentiam-se zangados ou culpados por alguma coisa, indesejados ou um fardo para outras pessoas. Na verdade, não queriam tanto assim morrer, mas sim escapar daquilo que se estava a passar na sua vida naquele momento. E, nessa altura, morrer parecia-lhes a única saída.
Muitas vezes isolamo-nos dos outros e é difícil partilhar com a família e os amigos o quão mal nos sentimos. Às vezes nem para nós próprios é assim tão claro que queremos morrer. Podemos sentir-nos indiferentes, confusos ou ter a esperança que alguém nos compreenda e nos ajude. Nem sempre pensar sobre suicídio significa que queremos realmente morrer. Muitas pessoas pensam sobre suicídio e a maior parte delas não leva esses pensamentos até ao fim e se mata.
Muitas pessoas experienciam vontade de se suicidar e pensamentos suicidas como parte de um problema de Saúde Psicológica ou quando experienciam problemas de saúde física graves e dolorosos. Algumas vezes o suicídio é planeado, mas outras vezes as tentativas de suicídio acontecem por impulso, num momento de desespero.
Existem alguns sinais que podem indicar que alguém está a pensar suicidar-se:
- Falar sobre suicídio ou sobre a morte;
- Falar sobre “ir embora”, “não estar mais aqui”, “desaparecer”;
- Referir-se a coisas de que não vai precisar ou dar objectos pessoais;
- Falar sobre sentir-se desesperado ou culpado;
- Afastar-se de amigos e familiares e perder o interesse em sair de casa;
- Perder o interesse pelas actividades ou passatempos favoritos;
- Ter dificuldade em concentrar-se e em pensar com clareza;
- Alterações nos hábitos alimentares e de sono;
- Manifestar comportamentos autodestrutivos (beber álcool em excesso, consumir drogas, auto mutilar-se…).
Contudo muitas vezes as pessoas que se suicidam não deram qualquer tipo de “pista” de que estavam a pensar suicidar-se. É importante saber que não nos devemos sentir culpados ou achar que podíamos ter feito alguma coisa.
Se tens vontade de morrer ou pensas em suicidar-te, procura ajuda! Fala com alguém em quem confies o mais depressa possível – um dos teus pais, um professor, um familiar, o Psicólogo da escola.
Também podes ligar para o 112 (Serviço Nacional de Socorro) ou para o SOS Voz Amiga (21 354 45 45 ou 91 280 26 69 ou 96 352 46 60, entre as 16h e as 24h). Tudo o que disseres é confidencial e nem precisas de te identificar.
Se sabes que um amigo teu está a pensar suicidar-se, mesmo que ele te faça jurar manter segredo, procura ajuda o mais depressa possível – a vida do teu amigo pode depender disso. Alguém que pense seriamente suicidar-se pode estar num estado emocional tão difícil que não é capaz de reconhecer que precisa de ajuda. Conta a um adulto em quem confies o mais depressa possível. O Psicólogo da escola pode ajudar.
Existem profissionais de saúde, nomeadamente os Psicólogos, que nos podem ajudar a dar sentido aos nossos sentimentos e a resolver os nossos problemas, mesmo quando eles nos parecem sem solução.
Automutilação
A automutilação consiste na realização intencional de comportamentos de agressão ao próprio corpo, sem intenção de provocarem a morte. Existem muitos tipos de comportamentos de automutilação, por exemplo, cortar-se (utilizando lâminas, facas ou outros objetos afiados), beliscar-se, esmurrar objetos (como uma parede), queimar-se (utilizando cigarros, fósforos ou velas), arrancar o cabelo ou tentar partir ossos do próprio corpo.
A automutilação afeta menos de 10% dos adolescentes e é mais frequente nas raparigas, embora também aconteça com os rapazes. A automutilação surge quando lidar com a dor física se parece mais fácil do que lidar com a dor e o sofrimento emocional. Normalmente acontece em segredo, sem ninguém saber.
Podemos entender a automutilação como uma forma (não saudável) que alguns adolescentes utilizam para lidar com as emoções quando elas lhes parecem insuportáveis. Para alguns adolescentes que não conseguem exprimir os seus sentimentos de outra forma, a automutilação é vista como uma forma de “pelo menos sentir alguma coisa”, de se libertarem de sentimentos desconfortáveis, de se “castigarem” por se sentirem culpados ou envergonhados, de se sentirem aliviados ou de pararem de pensar/sentir emoções muito negativas (raiva, solidão ou desespero, por exemplo).
O problema é que o “alívio” que sentem é apenas temporário, as suas emoções e as circunstâncias que as causam, permanecem.
Embora a automutilação possa começar por um simples impulso, acaba, muitas vezes, por se tornar um hábito.
Os adolescentes que se auto mutilam não o fazem apenas para “chamar a atenção”. A automutilação é um problema de Saúde Psicológica. E pode estar associada a outros problemas de Saúde Psicológica, como a Depressão ou a Ansiedade.
Alguns sinais podem indicar comportamentos de automutilação:
- Ter cortes, cicatrizes, queimaduras ou nódoas negras;
- Apresentar desculpas para os cortes/cicatrizes/queimaduras/nódoas negras;
- Usar roupa de maga comprida ou calças mesmo com muito calor;
- Alterações no sono e no apetite;
- Comportamento que revela secretismo;
- Isolar-se dos amigos e família.
É importante saber que há outras formas de lidar com os nossos problemas e emoções negativas –formas mais eficazes, mais saudáveis e mais duradouras do que a automutilação, que não nos deixam cicatrizes físicas nem emocionais.
Se tens comportamentos de automutilação ou conheces alguém que tem, procura ajuda junto de um adulto de confiança ou de um Psicólogo. Um Psicólogo pode compreender-te e ajudar a encontrar outras formas de lidar com os problemas e as emoções.
Vícios
Os vícios, dependências ou adições acontecem quando ingerimos uma substância ou nos envolvemos numa actividade que pode ser agradável, mas que realizada de forma contínua se torna compulsiva e interfere com as nossas responsabilidades ou com a nossa saúde, tornando-se prejudicial. Existem diferentes tipos de adições, sendo as mais comuns as adições às drogas, ao jogo, ao álcool ou ao tabaco. Mas também é possível, por exemplo, ter uma adição ao trabalho, à internet ou às compras.
Quando temos uma adição não conseguimos controlar aquilo em que estamos viciados, podemos tornar- nos dependentes disso para fazermos a nossa vida do dia-a-dia. Sempre que não temos ou fazemos aquilo em que estamos viciados, sentimo-nos “ressacados” e “em baixo”. Como essas sensações são muito desagradáveis, a nossa tendência é continuar a fazer ou a consumir e o ciclo continua. Começa a ser cada vez mais difícil parar e podemos chegar a uma situação descontrolada.
O esforço de ter de lidar com uma adição pode prejudicar seriamente o nosso trabalho e as nossas relações. No caso da adição a álcool, drogas ou tabaco podem existir também efeitos físicos e psicológicos muito negativos. No entanto, é frequente que as pessoas não se apercebam que o seu comportamento está fora de controlo e causa problemas a si e aos outros.
Nem sempre é fácil identificarmos uma adição, uma vez que os comportamentos aditivos podem ser confundidos com comportamentos normais ou com hábitos. Todavia, quando um comportamento se torna uma adição gera problemas na vida diária e existem alguns sinais de que algo não está bem.
Alguns sinais de que se tem uma adição:
- Esconder os comportamentos aditivos, negar que está viciado ou que tem um problema;
- Usar a adição como uma forma de esquecer os problemas ou relaxar;
- Isolar-se dos amigos e familiares;
- Manter segredos, mesmo das pessoas mais próximas;
- Perda de interesse nas actividades que dantes eram importantes;
- Problemas na escola (por exemplo, baixar as notas ou faltar frequentemente);
- Mudança repentina de amigos e interesses;
- Passar muito tempo a pensar na adição;
- Roubar ou vender objectos para financiar a adição;
- Não ser capaz de parar a adição sozinho;
- Irritabilidade, mudanças de humor, impaciência e baixa tolerância à frustração.
As adições não têm a ver com falta de moral ou de carácter. Não se resolvem apenas com “força de vontade”. Não é fácil ultrapassar uma adição, mas é possível. Seja qual for a adição, existem intervenções eficazes. Se achas que tens uma adição ou conheces alguém que tem, procura ajuda junto de um adulto de confiança ou do Psicólogo da escola.
Adquira o Livro “Game Over – Prevenção de comportamentos problemáticos de jogo“.
Ao longo do livro são apresentadas questões para reflexão, ajudando a criança ou jovem a promover competências tão diversas com a resolução de problemas, a empatia, a assertividade ou, ainda, a capacidade em pedir ajuda.
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Álcool e Drogas
O álcool é uma bebida que, uma vez consumida, é absorvida pela corrente sanguínea e afecta o sistema nervoso central (que inclui o nosso cérebro e controla quase todas as funções do nosso corpo).
Embora toda a gente saiba que a idade a partir da qual o consumo de bebidas alcoólicas é legal é os 18 anos, a maior parte dos adolescentes experimenta bebidas alcoólicas antes disso.
Decidir beber álcool ou não, e que quantidade beber, é uma decisão pessoal que todos nós teremos de fazer um dia. O importante é termos informação suficiente para fazer uma escolha correcta.
Sabemos que o cérebro humano ainda está em desenvolvimento na adolescência e sabemos também que o álcool é um depressor, ou seja, torna mais lenta a função do sistema nervoso central. Na realidade, o álcool bloqueia algumas das mensagens que estão a tentar chegar ao cérebro, alterando a nossa percepção, emoções, movimentos, visão e audição.
Quando consumido em grande quantidade, o álcool provoca uma intoxicação (é o que acontece quando ficamos bêbados). As pessoas podem perder a coordenação, falam mais lentamente, podem ficar confusas e desorientadas. Dependendo da pessoa, a intoxicação pode tornar alguém muito amigável, desinibida e faladora ou muito agressiva e zangada. Os nossos tempos de reacção diminuem drasticamente e esse é um dos principais motivos pelos quais não é permitido beber e conduzir.
O álcool parece-nos inofensivo. Vemos o consumo de álcool apenas como uma forma de nos divertirmos. Vemos publicidade e programas de televisão que mostram pessoas bonitas a aproveitar a vida e a beber álcool. Convivemos com adultos que consomem álcool socialmente, bebendo uma cerveja ao jantar, por exemplo. E queremos experimentar beber por vários motivos: por curiosidade, para nos sentirmos bem e relaxados, para pertencermos ao grupo de amigos ou sermos mais populares, para nos sentirmos adultos ou porque achamos que assim escapamos aos nossos problemas.
Acontece algo semelhante com as drogas. Não é difícil encontrá-las e parece que toda a gente já experimentou e que, portanto, “não faz mal”.
As drogas são, contudo, substâncias químicas que alteram a forma como o nosso corpo funciona. Por exemplo, podem intensificar ou adormecer os nossos sentidos, deixar-nos mais alerta e excitados ou mais sonolentos. E, por isso, podem alterar a nossa capacidade de fazer escolhas saudáveis e tomar decisões.
Embora, logo ao início, o álcool/drogas nos possam deixar mais bem-dispostos, o consumo de álcool/drogas pode ter várias consequências negativas:
- O álcool/drogas afetam a nossa capacidade de tomar decisões. Por exemplo, quando bebemos demais podemos dizer e fazer coisas das quais nos arrependemos depois ou nem sequer nos somos capazes de lembrar. Ou quando estamos sob o efeito de alguma substância podemos envolver-nos em situações perigosas.
- Os adolescentes que consomem álcool/drogas correm mais risco de se envolver em comportamentos de violência e de cometer crimes, incorrendo em problemas com a lei.
- Os adolescentes que consomem álcool/drogas apresentam frequentemente problemas na escola. O consumo de álcool/drogas pode afetar negativamente a nossa capacidade de estudar e ter boas notas, assim como o nosso desempenho desportivo.
- Podemos fazer figuras parvas. A impressão que dá é que beber/consumir droga dá bom aspeto, mas o fato é que as alterações que o consumo de álcool/droga provoca no sistema nervoso podem fazer-nos parecer estúpidos ou levar-nos a ter comportamentos embaraçantes (como vomitar em alguém ou fazer xixi pelas pernas abaixo). Por exemplo, como o álcool desinibe, podemos dizer e fazer coisas que não faríamos se não estivéssemos embriagados. A ressaca também não é agradável (podemos ter dores de cabeça, ficarmos indispostos, cansados e sentir muita sede).
- O álcool/drogas colocam a nossa saúde em risco. O consumo de álcool/droga aumenta a probabilidade de nos envolvermos em atividades sexuais desprotegidas e em comportamentos auto destrutivos (por exemplo, o consumo de álcool/droga aumenta a probabilidade dos adolescentes se envolverem num acidente de carro, homicídio ou suicídio). Os adolescentes que consomem álcool/drogas regularmente também têm maior probabilidade de engordar e de ter outros problemas de saúde.
- O álcool/drogas não resolvem os nossos problemas. Quando deixamos de estar embriagados/drogados os problemas continuam à nossa espera. Quanto muito o álcool/drogas pioram os nossos problemas, porque para além de continuarmos a ter de os resolver ainda temos de lidar com as consequências negativas do consumo de álcool/drogas.
- A longo-prazo, o consumo de álcool/drogas na adolescência tem efeitos negativos no nosso cérebro, nomeadamente no que diz respeito à nossa capacidade de processar informação e de aprender. Para além disso, aumenta a probabilidade de virmos a ter um problema com o álcool/drogas na idade adulta.
Muitas vezes sentimo-nos pressionados pelos amigos para beber/consumir drogas. Mas a decisão deve ser sempre nossa.
Se, porventura, decidirmos beber devemos fazê-lo por escolha própria, devidamente informados e tentar manter-nos seguros. Por exemplo, não beber sozinhos, comer antes de beber, beber água entre as bebidas alcoólicas, beber devagar, não conduzir nem aceitar ser conduzido por alguém que bebeu.
O consumo excessivo de álcool pode tornar-se um problema, uma adição – alcoolismo. Normalmente não pensamos no álcool como sendo uma droga, mas é e funciona como as outras drogas, podendo causar vício/dependência. E, nestes casos, as pessoas já não conseguem controlar o seu consumo de álcool sem ajuda. O alcoolismo é uma doença e precisa de ser tratada, tal como todas as outras doenças.
Alguns sinais que podem indicar um problema com álcool/drogas:
- Depender do álcool/drogas para se divertir, esquecer problemas ou relaxar;
- Desmaiar por ter consumido álcool/drogas;
- Beber ou consumir drogas sozinho;
- Isolar-se e manter segredos dos amigos e da família;
- Perder interesse nas actividades que anteriormente eram importantes;
- Diminuição do desempenho escolar (descer as notas, faltar às aulas frequentemente);
- Aumento da tolerância ao álcool/drogas (ou seja, precisar cada vez de maior quantidade para ter as mesmas sensações);
- Mentir, roubar ou vender coisas para obter dinheiro para o álcool/drogas;
- Experimentar sintomas de ressaca sempre que não se bebe/consome drogas (por exemplo, náuseas, diarreia, vómitos, dores de cabeça);
- Dificuldades em dormir e flutuações do humor;
- Ansiedade e pensar constantemente em consumir álcool/drogas.
Se pensas que podes ter problemas com o álcool/drogas (ou que alguém que conheces tem), procura ajuda. Um adulto de confiança ou um Psicólogo podem ajudar. É possível viver e ser feliz sem consumir álcool/drogas. Um profissional de saúde pode ajudar-nos a lidar com a necessidade de consumir, a evitar situações em que o consumo é provável e a prevenir/lidar com recaídas.

Ao longo do livro são apresentadas questões para reflexão, ajudando a criança ou jovem a promover competências tão diversas com a resolução de problemas, a empatia, a assertividade ou, ainda, a capacidade em pedir ajuda.
Da coleção “Prevenir”. +info
Hábitos de Sono
O sono é uma parte importante da nossa vida. Ajuda-nos a sentir bem, focados e felizes. Todos nós temos noites de sono menos boas, mas quando não dormimos o suficiente ou bem de forma regular, isso pode afetar a forma como nos sentimos e aquilo que somos capazes de fazer durante o dia. Aumenta as nossas probabilidades de ficarmos doentes e até pode estar relacionado com o excesso de peso.
Somos todos diferentes, por isso todos temos necessidades de sono diferentes. No entanto, em termos gerais, a maior parte dos adolescentes precisa entre 8 a 10 horas de sono todas as noites. E precisam destas horas de sono porque estão num período de grande crescimento físico, intelectual e emocional. É muito importante garantir um período de sono de no mínimo 8 horas!
Embora não dormir o suficiente possa parecer pouco preocupante, na realidade o sono é fundamental para a nossa Saúde Psicológica. De acordo com inúmeros estudos científicos ter bons hábitos de sono melhora o nosso humor, concentração e desempenho na escola ou no trabalho. Pelo contrário, os maus hábitos de sono estão associados a sintomas de depressão (por exemplo, sentir-se em baixo ou irritável), ao uso de álcool e outras drogas e à diminuição do desempenho escolar (estar cansado afecta a nossa memória, concentração e a nossa motivação).
As pessoas que dormem muito pouco (menos de 5 horas por noite) têm maior probabilidade de desenvolver problemas de Saúde Psicológica. A investigação sugere que, por cada hora perdida de sono, existe um aumento de 14% no risco de emoções negativas que afectam a nossa capacidade de funcionar no dia-a-dia; um aumento de 38% da probabilidade de nos sentirmos tristes; ou um aumento de 23% na probabilidade de usarmos tabaco, álcool ou marijuana.
Como podemos melhorar os nossos hábitos de sono quando temos dificuldade em adormecer ou em mantermo-nos a dormir?
- Tentar ir para cama e acordar mais ou menos à mesma hora, todos os dias, incluindo no fim-de-semana. A rotina ajuda o nosso corpo a dormir.
- Desligar os ecrãs (do telemóvel, tablet, computador ou TV) pelo menos 30 minutos antes de ir dormir.
- Escurecer a divisão onde se vai dormir. E abrir as janelas quando se acorda.
- Fazer uma actividade relaxante antes de ir dormir (ler, ouvir música calma, passar tempo com um animal de estimação, escrever um diário, etc.).
- Fazer exercício durante o dia. Antes de ir dormir é de evitar o exercício físico.
- Utilizar a cama apenas para dormir. Trabalhar, ver televisão, falar ao telefone ou espreitar as redes sociais não deve ser feito na cama.
- Diminuir a quantidade de cafeína e tentar evitar a cafeína após a hora do almoço.
- Evitar fazer sestas durante o dia.
- Não beber álcool antes de ir dormir. Pode dar-nos a sensação de que ficamos mais sonolentos mas não vai facilitar que tenhamos uma boa noite de sono e de descanso.
- Não stressar! Não adianta stressar sobre se vamos ou não conseguir adormecer ou dormir bem, o stress pode provocar ainda mais dificuldade em dormir. Em vez disso, é melhor esperar uma boa noite de sono e lembrar a nós próprios que “hoje vamos dormir bem”.
- Verificar se não temos um horário demasiado preenchido que não nos deixa horas suficientes para descansar.
Se algum aspecto dos nossos hábitos de sono nos preocupa, se não descansamos o suficiente e nos sentimos cansados durante o dia, devemos procurar ajuda de um profissional de saúde.
Comportamentos Alimentares
Todos temos diferentes hábitos alimentares e é normal que a forma como comemos seja afetada quando nos sentimos sob pressão, em sofrimento ou em stresse. Podemos desejar um alimento em particular (como o chocolate), perder o apetite, comermos mais ou nem sermos capazes de comer. Quando essas situações difíceis passam, voltamos a comer normalmente.
Já todos comemos um pacote de bolachas porque estávamos aborrecidos ou devorámos uma tablete de chocolate enquanto estudávamos para um teste que nos estava a preocupar.
No entanto, se durante um período de tempo mais longo comemos muito pouco ou em demasia, nos preocupamos excessivamente com o nosso peso ou com o aspecto do nosso corpo, podemos desenvolver uma perturbação alimentar. A comida pode tornar-se cada vez mais importante na nossa vida e, nalguns casos, torna-se a coisa mais importante e à volta da qual a nossa vida gira. Podemos negar comida a nós próprios mesmo quando temos fome, ou comer constantemente ou comer compulsivamente. Podemos pensar constantemente em comida ou no nosso peso.
As perturbações alimentares são muito mais do que iniciar uma dieta ou fazer exercício físico todos os dias. Representam padrões extremos de comportamento alimentar e formas de pensar sobre a alimentação, sobre as quais não sentimos controlo. Por exemplo: dietas sucessivas ou uma dieta que se torna muito restritiva; deixar de sair com os amigos porque é mais importante ir correr para “abater” um bolo que se comeu ao almoço.
Desta forma, a alimentação pode afectar negativamente a nossa vida. Mas não se trata apenas de “comida” e “comer”. As perturbações alimentares também dizem respeito a problemas complexos e a sentimentos dolorosos – difíceis de expressar, confrontar e resolver. Às vezes, focando-nos na comida estamos a desviar a (nossa) atenção de outros problemas.
Existem várias perturbações alimentares, como a anorexia, a bulimia ou as compulsões alimentares. Todas elas implicam uma preocupação exagerada com a alimentação, o exercício físico, o peso ou a forma do corpo.
Podemos estar a comer compulsivamente quando utilizamos a comida em situações em que nos sentimos “em baixo” e precisamos de apoio emocional, quando nos sentimos infelizes e comemos como forma de conforto. Podemos passar o dia a comer sem conseguirmos parar ou dar por nós a comer uma quantidade exagerada de doces enquanto vemos televisão. Como consequência, é provável que tenhamos peso a mais e que possamos desenvolver problemas de saúde física por causa disso.
A bulimia corresponde a um ciclo em que primeiro nos sentimos compelidos a comer muita comida (muitas vezes, em segredo) e, depois, nos tentamos livrar dos efeitos de termos comido muito.
Quando temos bulimia podemos comer compulsivamente (ou seja, grandes quantidades de uma só vez), passar fome depois de comer, vomitar o que comemos ou usar laxantes, pensar constantemente em comida, comer às escondidas ou pensarmos que temos peso a mais.
Como o peso não se altera muito e as pessoas com bulimia tentam esconder os seus comportamentos, este problema não é muito visível ou fácil de identificar. Contudo, os seus efeitos na saúde física e psicológica são graves.
Quando temos anorexia podemos sentir que aquilo que comemos, se comemos e quando comemos é a única parte da nossa vida sobre a qual temos controlo. Ganhar peso significa perder esse controlo. Não queremos aumentar de peso, mas simultaneamente também não queremos morrer à fome. Todavia, não comer e perder peso pode ser a única forma de nos sentirmos seguros, mesmo que tenhamos muita fome.
Quando temos anorexia, é comum negarmos que temos fome, ficarmos obcecados com a perda de peso, contarmos todas as calorias do que comemos, escondermos comida, fazermos exercício em excesso, usar medicamentos para reduzir o apetite ou acelerar a digestão, provocar o vómito, usar roupas largas. Acreditamos que temos peso a mais, mesmo quando toda a gente nos diz que estamos demasiado magras/os.
A anorexia pode afetar todos os aspetos da nossa vida, a forma como pensamos e como nos sentimos: podemos ter sentimentos negativos, um baixo sentido de auto-estima, medo da rejeição e uma auto-imagem distorcida.
Alguns sinais que podem indicar a existência de um problema do comportamento alimentar:
- Estar sempre de dieta ou comer grandes quantidades de comida (sem alteração do peso);
- Ter medo de ganhar peso;
- Obsessão com o que come, com a comida e com o controlo do peso;
- Estar constantemente a pensar e a falar sobre comida, peso, imagem corporal;
- Contar todas as calorias do que come ou pesar tudo o que ingere;
- Comer apenas determinados alimentos (evitando os mais calóricos);
- Esconder comida ou deitá-la fora;
- Pesar-se repetidamente (todos os dias, por exemplo);
- Fazer exercício físico em excesso;
- Estar muito insatisfeito com o peso, o tamanho e a forma do seu corpo;
- Evitar atividades sociais que envolvam comida, nomeadamente festas e jantares;
- Passar muito tempo a preparar comida para os outros;
- Usar roupa larga para disfarçar a perda de peso;
- Sentir-se fraco, cansado, sem energia e com dificuldades de concentração;
- Sentir-se triste e deprimido.
Ter um problema com a alimentação não é raro nem deve ser motivo de vergonha. Qualquer pessoa, de qualquer idade pode ter uma perturbação alimentar. É muito difícil resolver esses problemas sozinho/a e receber ajuda o mais cedo possível é muito importante.
Os problemas do comportamento alimentar são problemas graves e sérios, podem pôr em causa a nossa saúde física e até mesmo a nossa vida.
Existem intervenções eficazes para as perturbações alimentares, que nos permitem levar uma vida equilibrada e saudável. Leva tempo e requer paciência e esforço, mas é possível aprender a sentirmo-nos confortáveis com um peso saudável para nós, a adoptar comportamentos alimentares novos, a compreender a relação entre os nossos sentimentos e o que comemos, assim como todas as ferramentas que precisamos para nos sentirmos no controlo. É fundamental procurar ajuda, médica e psicológica.
Muitas pessoas que têm um problema do comportamento alimentar acham que não precisam de ajuda porque não estão assim tão mal ou tão magras. Independentemente do peso da pessoa ou da quantidade de comida que come, qualquer pessoa que experiencie padrões alimentares pouco saudáveis e sofra com o seu aspeto físico, deve procurar ajuda.
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