Como Falo com os meus pais?
Há uns anos atrás não tínhamos problema algum em falar com os nossos pais, gostávamos de lhes contar tudo o que se passava connosco e queríamos a ajuda deles para resolver os nossos problemas. Mas durante a adolescência a nossa relação com os pais muda. Parece que quanto mais eles querem saber o que se passa na nossa vida, mais temos vontade de guardar tudo para nós. Que quantos mais conselhos nos querem dar, mais pensamos que eles não fazem a mínima ideia do que se passa connosco.
É natural falarmos mais com os nossos amigos do que com os nossos pais, mesmo quando temos uma boa relação com eles. Ainda assim, a maior parte de nós gosta de ter a ajuda, o apoio e os conselhos dos pais de vez em quando. Embora falar com os nossos pais nem sempre seja uma tarefa fácil, sobretudo quando estão em causa determinados assuntos…
Falar com os nossos pais pode ser intimidante, mas algumas estratégias podem ajudar:
- Falar sobre coisas do dia-a-dia, todos os dias. Quanto mais praticamos uma coisa, mais fácil se torna. Por isso, falar com os nossos pais sobre as coisas do dia-a-dia pode ajudar-nos a falar com eles sobre temas mais difíceis e tornar mais fáceis as alturas em que temos de discutir coisas sérias. Qualquer conversa pode ajudar a tornar a relação com os nossos pais mais confortável – o que vai ser o jantar, o resultado da nossa equipa de atletismo, alguma coisa que algum professor disse, a última asneira do cão… Nunca é tarde de mais para começar a conversar! E os pais ficam contentes de saberem coisas sem importância da nossa vida diária.
- Conversar primeiro apenas com um dos nossos pais. Aquele com que achamos que a conversa pode correr melhor, sobretudo se o assunto for difícil, ainda que depois possamos falar todos em conjunto.
- Escutar é sempre melhor do que gritar. Se tentarmos ouvir os nossos pais e o seu ponto de vista, é mais provável que eles nos ouçam a nós e ao nosso ponto de vista.
- Não responder mal nem agressivamente. Com certeza que isso não fará com que nos respeitem nem acedam ao nosso pedido e só tornará tudo pior.
- Evitar frases melodramáticas como “odeio-te”, “tu nunca queres saber o que penso” ou “preferia morrer a fazer isso”.
- É sempre melhor pensar antes de falar. Se já nos estamos a sentir zangados por dentro, mais vale esperar para falar num momento mais calmo do que dar início a mais uma discussão que não vai levar a lado nenhum.
- Estar preparado para ouvir um “não”. Mesmo quando os nossos argumentos são bons, mesmo quando falamos com calma, mesmo quando ouvimos os nossos pais, eles podem estar determinados a fazer as coisas à sua maneira. Às vezes os nossos pais não nos compreendem mesmo, ponto.
Quando temos de dar uma má notícia aos nossos pais (por exemplo, vamos chumbar o ano) ou falar sobre algum tema que pode ser mais delicado (por exemplo, o nosso novo/a namorado/a) ficamos com algum receio de não saber bem o que dizer ou como eles vão reagir. Nessas alturas há algumas coisas que nos podem ajudar a preparar “a conversa”:
- Saber o que queremos da conversa. Aquilo que esperamos conseguir pode variar: podemos querer apenas que os nossos pais nos ouçam e compreendam aquilo pelo qual estamos a passar, sem comentários; podemos querer autorização ou permissão para fazer determinada coisa; podemos precisar de conselhos ou ajuda a resolver um problema. É importante sabermos o queremos para o podermos dizer logo no início da conversa. Por exemplo: “mãe, quero contar-te sobre um problema, mas preciso apenas que me oiças, ok? Não me dês conselhos, só quero que saibas o que se está a passar”; “pai, preciso da tua autorização para ir a uma viagem de estudo para a semana, posso falar-te sobre isso?”; “mãe, preciso do teu conselho sobre uma coisa, podemos falar?”.
- Identificar os nossos sentimentos. Coisas pessoais ou temas como o sexo são difíceis de discutir com qualquer pessoa, quanto mais com os pais. É normal ficarmos nervosos. É importante reconhecer os nossos sentimentos, por exemplo, que estamos preocupados em contar aos nossos pais um problema porque achamos que os vamos desiludir ou zangar. Em vez desses sentimentos nos impedirem de conversar com os nossos pais podemos torna-los parte da conversa. Por exemplo: “Mãe, preciso de falar contigo, mas tenho medo que fiques zangada comigo” ou “pai, preciso de te contar uma coisa, mas sinto-me um bocado envergonhado…”.
- Escolher uma boa altura para conversar. É preferível escolhermos uma altura em que os nossos pais não estejam ocupados com outra coisa qualquer, ou à pressa para sair de casa e chegar ao trabalho. Podemos aproveitar uma viagem de carro ou um passeio ou o momento após o jantar. Ou perguntar diretamente “podemos falar? É uma boa altura?”.
- Pensar no que vamos dizer e como. Vamos começar por onde? Como vamos abordar a questão? Pensar numa estratégia pode ajudar a que a conversa corra melhor. Às vezes pode ser útil praticar a conversa (na nossa cabeça, em frente ao espelho, com um amigo, escrevê-la num papel…).
Durante a conversa, como sabemos, falar e ouvir, nem sempre corre bem. As emoções do momento interferem e uma conversa pode rapidamente descarrilar. Os pais vão ouvir-nos? Levar-nos a sério? Ouvir e respeitar as nossas opiniões sem nos interromperem? Depende dos pais, claro, há pais que são muito bons ouvintes e outros que nem por isso. Mas também depende de nós! Afinal a comunicação é sempre uma estrada com duas vias, por isso, a forma como falamos também influencia a forma como os nossos pais nos ouvem e nos compreendem. Algumas sugestões a seguir:
- Ser claro e direto. Devemos tentar ser o mais claros e diretos possível relativamente ao que pensamos, sentimos e queremos. Dar detalhes sobre a situação pode ajudar os nossos pais a compreender a nossa situação e a ajudar-nos.
- Ser sincero. Se formos sempre sinceros os nossos pais vão acreditar no que lhes dizemos. Se mentimos ou fazemos grandes dramas, vai ser mais difícil que eles acreditem e confiem em nós.
- Compreender o ponto de vista dos nossos pais. Quando não concordamos com os nossos pais podemos tentar compreender as suas razões e o seu ponto de vista. Dizer aos nossos pais que também compreendemos a sua perspetiva pode ajudá-los a ver a nossa.
- Tentar não discutir ou reclamar. Usar um tom de voz calmo e amigável torna mais provável que os nossos pais nos ouçam e nos levem a sério. Também torna mais provável que falem connosco nesse tom. Gritar ou dizer coisas desagradáveis não vai fazer ninguém mudar de ideias e dar-nos o que queremos. É claro que isto é difícil de fazer quando estamos irritados, mas quando vemos que as nossas emoções estão a interferir com a conversa é melhor adiar a conversa ou interrompe-la. Mesmo quando os nossos pais nos deixam “à beira de um ataque de nervos” continuam a ser os nossos pais e se queremos ser respeitados temos de os respeitar!
E quando não resulta mesmo falar com os nossos pais?
Podemos experimentar outros métodos. Por exemplo, escrever uma carta ou um email. Tem a vantagem de não nos atrapalharmos a falar, não haver gritos nem interrupções de parte a parte. Podemos dizer tudo o que pensamos, sem pressões. Ou tentar pedir a ajuda de um terceiro elemento, talvez um irmão mais velho ou outro familiar (ou um Psicólogo), que nos ajude a ter uma conversa séria e calma com os noutros pais.
Ainda assim é preciso estarmos conscientes de que nem sempre os nossos pais vêm as coisas da mesma forma que nós ou da forma que gostaríamos. Nem sempre vão dizer “sim” ao que lhes pedimos. Até podem ouvir-nos e compreender-nos e fazer tudo exceto dizer “sim”. E pode ser difícil aceitar isso. Mas aceitar que nem sempre temos aquilo que queremos com respeito e calma até nos podem ajudar a ouvir mais “sins” no futuro.
Se aquilo que realmente precisamos é mais do que um “sim” e os nossos pais não nos conseguem dar o apoio de que necessitamos podemos falar com outros adultos em quem possamos confiar – outro familiar, um Professor ou o Psicólogo da escola.
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