Como Lidar com o Divórcio dos meus Pais?
Embora o divórcio já seja uma coisa muito comum, quando acontece na nossa família podemos sentir-nos muito sozinhos e inseguros, sem saber muito bem como gerir a situação. Quer o divórcio surja como algo que já esperávamos, quer seja uma surpresa para nós.
Pode ser difícil mas é possível lidar com o divórcio dos pais e ter uma boa vida familiar, apesar de todas as mudanças que um divórcio traz.
Os casais divorciam-se por diversos motivos. Porque já não querem viver juntos, porque discutem e brigam muito, porque o amor que sentiam quando casaram já não existe, porque se apaixonaram por outra pessoa ou por problemas como o alcoolismo ou vício do jogo. Às vezes não acontece nada de mau, mas os casais decidem simplesmente viver separados.
Acontece muitas vezes os adolescentes acharem que os pais se estão a divorciar por sua culpa. Mas esse nunca é o caso. Podemos sentir-nos culpados pelo que aconteceu, desejar ter evitado algumas discussões ajudando mais em casa ou tendo um comportamento melhor ou notas mais altas. Mas o divórcio é o resultado de problemas entre o casal e não com os filhos. A decisão de um casal se separar tem a ver com assuntos relacionados com o casal e não com coisas que um filho possa ter feito ou não ter feito. O divórcio ou não dos nossos pais está fora do nosso controlo.
Quando os nossos pais se divorciam podemos experimentar vários sentimentos. E as nossas emoções podem mudar muito de um momento para o outro. Podemos sentir-nos ansiosos, stressados, zangados, frustrados, tristes. Mas também contentes ou aliviados. Podemos culpar um dos pais pela situação e tentar proteger o outro. Podemos sentir-nos abandonados, preocupados, culpados, com medo.
Como é que o divórcio dos meus pais vai influenciar a minha vida?
É provável que o divórcio dos pais nos obrigue a adaptar a várias mudanças, que podem incluir mudar de casa, mudar de escola, passar tempo com ambos os pais separadamente ou lidar com sentimentos menos bons dos nossos pais. O divórcio dos pais pode significar ainda termos de lidar com novos parceiros dos nossos pais e os respetivos familiares.
Podemos acabar por viver com um dos pais a maior parte do tempo ou passar igual tempo com os dois. Nas duas situações podemos ter de ultrapassar alguns desafios práticos e sociais. Mas ao fim de algum tempo conseguimos criar uma rotina.
Ao início estas transformações na nossa vida diária podem ser bastante confusas, mas com o tempo tudo se vai tornando mais fácil. Não conseguiremos aceitar e processar tudo de uma só vez, também é preciso tempo para pensarmos o irmos assimilando o que aconteceu e a forma como a nossa vida mudou.
Existirão sempre altos e baixos ao longo do processo, mas até podemos descobrir algumas vantagens na situação. Muitos adolescentes acabam por descobrir que os pais ficam mais felizes após o divórcio e conseguem desenvolver novas e melhores formas de se relacionarem com ambos os pais. A relação com os irmãos também pode ficar mais próxima e forte.
Lidar com o divórcio dos nossos pais pode fazer-nos ganhar mais maturidade e responsabilidade. Podemos ganhar competências como a resolução de problemas, tornarmo-nos melhores ouvintes e melhores amigos.
É claro que, como no cinema, nem todas as histórias têm um final feliz. Contudo, olhando para trás muitos adolescentes acham que aprenderam coisas e que passar pelo processo os tornou mais fortes. Dar tempo ao tempo, pedir apoio e mantermo-nos focados nas coisas boas da nossa vida pode fazer toda a diferença.
Como sobreviver ao divórcio dos pais?
- Manter uma boa relação com ambos os pais. É importante que os pais não tentem que os filhos fiquem “do seu lado” e se tentarem devemos dizer-lhes diretamente que não o queremos fazer. É importante sentirmos que podemos passar tempo e falar com cada um dos nossos pais sem que o outro fique com ciúmes, magoado ou zangado. É muito injusto quando os pais nos colocam numa posição em que nos sentimos desleais só por estar a falar com um dos nossos pais ou quando parece que a felicidade de um dos nossos pais depende de nós. Nós temos o direito a amar e a relacionarmo-nos com ambos os pais, independentemente do que eles possam ter feito um ao outro. Se um dos pais está mais longe e o vemos menos frequentemente, não custa manter a proximidade através de telefonemas ou emails.
- Viver a nossa vida. Às vezes, durante um divórcio, os pais podem estar tão enredados nos seus problemas e nas mudanças nas suas vidas, que nós próprios podemos sentir que a nossa vida está em É importante continuarmos focados nos nossos planos e sonhos e fazer o nosso dia-a-dia da forma mais normal possível. Quando tudo está a mudar em casa pode ser muito bom que na escola, nas nossas atividades, com os amigos, tudo se mantenha igual. Se as coisas estiverem mesmo muito difíceis em casa podemos pensar em passar uns dias com um familiar ou um amigo até as coisas acalmarem. É importante continuar a comer a dormir bem.
- Falar sobre o futuro. É normal, após um divórcio, ficarmos com receio que os nossos planos para o futuro sejam afetados e é importante falar sobre isso com os nossos pais. Não nos devemos preocupar em acrescentar mais um fator de stresse ou preocupação aos nossos pais numa altura que já não é boa. É importante discutir abertamente as nossas preocupações e não guardar receios ou ressentimentos. Para a maior parte dos problemas existirão soluções!
- Pedir ajuda. O divórcio dos nossos pais pode mudar a nossa vida e ser um desafio para nós e para as nossas emoções. Mas podemos até sair da situação com as nossas capacidades e competências reforçadas. É importante falar e partilhar os nossos sentimentos e receios com outras pessoas – um irmão, um amigo, um familiar, um Professor ou o Psicólogo da escola. Pode ajudar-nos a lidar com a situação e fazer-nos sentir melhor. Se nos sentirmos realmente perturbados com a situação e incapazes de fazer a nossa vida normalmente (concentrarmo-nos na escola, sairmos com os amigos, etc.) é importante pedir ajuda e falar com um Psicólogo.
Os meus pais divorciaram-se quando eu era mais novo. Não devia já ter ultrapassado isto?
Quando os nossos pais se divorciam e nós ainda somos pequenos há mudanças e alterações que podem ser mais fáceis e outras mais difíceis. No entanto, podemos continuar a ter sentimentos fortes sobre a situação, mesmo quando toda a gente pensa que ultrapassámos tudo. É normal que o divórcio continue a ter impacto em nós, até porque estamos mais velhos e conseguimos compreender melhor como o divórcio dos nossos pais moldou a nossa família e influenciou a nossa vida.
Podemos ter perguntas sobre o divórcio dos nossos pais e pode ser uma boa ideia fazer-lhes essas questões, até porque já temos outra idade e mais capacidade de compreender algumas respostas. Por outro lado, é possível que, à distância, os nossos Pais sejam agora mais capazes de falar sobre isso.
Aquilo que funcionava quando éramos pequenos (em termos das visitas e do tempo passado com cada um dos pais ou com as férias) também pode já não funcionar e precisar de ser revisto. É importante falarmos com os nossos pais quando acharmos que é tempo das coisas mudarem e se ajustarmos a nossa vida escolar e social.
O meu pai vai casar outra vez e a minha mãe tem um namorado novo!
Quando os pais se divorciam é normal que uns tempos depois comecem a namorar novamente. Ver os nossos pais a namorar outra pessoa pode ser um bocado chocante, até porque acaba com a nossa esperança que eles possam voltar a estar juntos.
Pode ser esquisito ver os nossos pais a namorar. A adolescência é uma altura em que começamos a pensar em relacionamentos e estar a namorar ao mesmo tempo do que os nossos pais parece estranho. Por outro lado, também é saudável que os nossos pais ultrapassem o sofrimento que um divórcio causa e encontrem outra pessoa para partilhar a sua vida.
Nalguns casos o facto de um dos nossos pais se ter apaixonado por outra pessoa é o motivo do divórcio. Esta pode ser uma situação constrangedora e podemos sentir-nos tentados a culpar essa pessoa pelo fim do casamento dos nossos pais. No entanto, as razões do divórcio serão sempre algo entre os nossos pais.
Um novo parceiro dos nossos pais não será nunca a nossa nova “mãe” ou “pai”. Os nossos pais não têm substituição possível. No entanto, devemos ter alguma abertura para aceitar esta nova pessoa na nossa vida e, provavelmente, até vamos acabar por gostar mais dela do que esperamos.
Se já passou algum tempo e ainda sentimos dificuldade em lidar com o divórcio dos nossos pais ou com a relação que entretanto estabeleceram com outra pessoa e isso nos trás algum conflito interno, podemos sempre pedir a ajuda de um outro adulto ou do Psicólogo da escola.
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