Perder Alguém
Pode ser a primeira vez na vida que perdes alguém muito importante na tua vida. Ou pode já ter acontecido. É sempre muito difícil, sobretudo quando na nossa própria vida estamos a passar por uma fase com grandes desafios pessoais, emocionais e sociais.
O “luto” e a dor de perder alguém correspondem aos sentimentos e emoções que experimentamos quando alguém morre. Estes sentimentos são normais, mas a forma como nos afectam e a sua duração depende de vários factores (por exemplo, da nossa personalidade, da nossa família, da forma como a pessoa morreu e da nossa experiência anterior com a morte).
Não existe uma forma “certa” ou “errada” de nos sentirmos ou comportarmos quando sofremos a perda de alguém. Permitirmo-nos sentir zangados e tristes, chorar ou falar sobre a pessoa que morreu, pode ajudar. Mas pessoas diferentes lidam com a perda de alguém de forma diferente.
A dor provocada pela morte de alguém afecta-nos de forma diferente. Primeiro podemos sentir que o nosso mundo se despedaçou – as coisas que fazemos, as pessoas que vemos e os sítios onde vamos podem parecer-nos estranhos e não familiares. Pequenas coisas podem lembrar-nos imediatamente da pessoa que morreu e pode ser difícil conseguirmos pensar noutra coisa. Pode parecer que deixamos de ter controlo sobre a nossa vida e essa sensação, embora normal, é assustadora.
A zanga e um sentimento de injustiça também podem ser comuns quando alguém morre – “porquê aquela pessoa?! Não é justo!”. Podemos perguntar-nos “porque é que isto me aconteceu?” e sentirmos raiva do mundo ou mesmo da pessoa que morreu. Ou simplesmente zangados, no geral. A zanga e a raiva são normais desde que não nos magoemos a nós próprios ou alguém. Pode ajudar fazer desporto, esmurrar uma almofada ou gritar.
Embora a tristeza seja a emoção mais associada à dor de perder alguém, ela pode tomar várias formas. Podemos sentir que alguma coisa falta na nossa vida ou podemos preocupar-nos com o futuro. Nem sempre sentirmo-nos triste significa sermos capazes de chorar. Pode ser difícil para nós chorar ou sentirmo-nos desconfortáveis em chorarmos à frente de outras pessoas.
A perda de alguém também nos pode fazer sentir sozinhos. Até falar com amigos pode ser difícil. Pode parecer que ninguém vai entender como nos sentimos. Ou, por outro lado, podemos desejar ficar sozinhos, sem ninguém por perto.
Não é incomum sentirmo-nos aliviados quando alguém morre, sobretudo se a pessoa estava muito doente e a sofrer. Esta reacção é normal e não significa que somos pessoas “más” ou “insensíveis”.
O arrependimento também é comum e pode ser um sentimento muito perturbador. Podemos preocupar-nos com coisas que dissemos ou fizemos (ou deixámos por dizer e por fazer) e culparmo-nos por não termos sido melhores com a pessoa que morreu. O arrependimento é natural e devemos aceitá-lo e não sermos muito duros connosco próprios.
A morte de alguém muito próximo também nos pode confrontar com questões sobre o sentido da vida e com as nossas próprias crenças. Isso pode levar-nos a beber, consumir drogas ou a ter outros comportamentos de risco. Embora isso possa ser compreensível é fundamental mantermo-nos seguros.
Na verdade, sobretudo nos primeiros dias depois de perdermos alguém importante na nossa vida, podemos até não sentir nada. Pode ser tão difícil acreditar e aceitar o que aconteceu que nem conseguimos perceber o que sentimos. Esta sensação é muito confusa, mas normalmente acaba por passar. Se persistir é importante procurar ajuda.
A morte de alguém também nos pode provocar dor física. O nosso corpo reage aos nossos sentimentos intensos e podemos notar alguns sintomas físicos. Por exemplo:
- Cansaço e exaustão avassaladoras. Até as tarefas mais simples e diárias – levantar, ir para a escola, falar com outras pessoas – nos podem parecer um esforço enorme;
- Inquietação, não conseguirmos parar quietos;
- Dores de cabeça, dor no peito;
- Ataques de ansiedade;
- Dificuldade em respirar;
- Perda de apetite ou comer em excesso;
- Dificuldade em adormecer ou medo de ir dormir;
- Dificuldades de concentração.
Nos dias, semanas e meses que se seguem à morte de alguém importante para nós o mais provável é que passemos muito tempo a pensar nela. Podemos pensar sobre a forma como contribuiu para a nossa vida, o que significava para nós ou como mudámos depois da sua morte. Podemos questionar o sentido da vida e procurar um significado naquilo que aconteceu. Nalguns dias as coisas parecerão um pouco melhores, noutros podemos sentir-nos horrivelmente mal. Podemos pensar se algum dia seremos capazes de recuperar.
O luto é um processo. Não pára de repente. É um processo saudável de adaptação a uma nova realidade através do qual encontramos formas de lidar com o que aconteceu. Isso não significa esquecer a pessoa que morreu: nunca a esqueceremos. No entanto, à medida que o tempo passa podemos começar a aceitar o que aconteceu e a encontrar de novo sentido na nossa vida. É natural começarmos a sentir-nos gradualmente melhor.
O que nos pode ajudar a fazer um luto saudável?
- Falar com alguém. Encontrar as palavras para exprimir o que sentimos pode ser difícil e se calhar nem toda a gente vai entender, mas também podemos ficar surpreendidos com pessoas que nos querem realmente ajudar, embora possam não saber muito bem como.
- Escrever sobre o que sentimos (por exemplo, escrever uma carta à pessoa que morreu).
- Chorar, se tivermos vontade. Chorar não é um sinal de fraqueza e podemos sentir algum alívio depois de chorar.
- Participar nos rituais de luto. O funeral ou encontros com amigos e família podem ajudar-nos a sentir mais apoiados e a lidar com a perda. Mesmo que não nos apeteça falar, o simples facto de estarmos com outras pessoas que também gostavam da pessoa que morreu, pode ajudar a não nos sentirmos tão sozinhos.
- Cuidar do nosso corpo. Dormir bem e comer bem, mesmo que não nos apeteça, o nosso corpo continua a precisar de ambas as coisas. Devemos evitar comer em excesso ou recorrer ao álcool para “acalmar” a nossa dor. Fazer exercício físico sozinhos (por exemplo, correr ou nadar) ou em grupo (por exemplo, jogar futebol ou basquetebol).
- Fazer o que nos parece melhor. As outras pessoas podem tentar dar-nos conselhos, mas nem todos serão os mais certos para nós. Devemos fazer o que acharmos que nos faz sentir melhor ou pedir uma segunda opinião a um adulto em quem confiemos.
- Manter viva a memória da pessoa que morreu. Podemos querer fazer alguma coisa para celebrar a memória da pessoa que morreu e mantê-la viva na nossa vida. Por exemplo, podemos escrever, ver fotos ou vídeos da pessoa, fazer uma playlist com as músicas de que gostava, ir ao cemitério deixar flores, ou marcar os aniversários com uma actividade especial.
- Passar momentos descontraídos e alegres. Quando alguém morre podemos sentir-nos culpados quando rimos ou estamos alegres, por a nossa vida continuar depois da de alguém que era tão importante para nós ter terminado. No entanto, é importante tentarmos passar momentos de descontracção com os nossos amigos e rirmos quando podermos.
- Voltar às nossas rotinas. Depois de perdermos alguém voltarmos às nossas rotinas, a ir à escola todos os dias, pode parecer totalmente sem sentido e ser muito difícil. Mas pode ajudar.
Às vezes, os sentimentos de dor pela perda de alguém não ficam mais fáceis de suportar e continuamos a sentir-nos tristes ou até mais tristes à medida que o tempo passa. Podemos sentir que não aceitamos que a pessoa morreu, ter dificuldade em confiar nos outros, não nos sentirmos bem com o facto de a nossa vida continuar a acontecer, sentirmo-nos afastados e desligados das pessoas que nos eram próximas, não encontrar sentido em continuar a viver e achar que nunca mais seremos capazes de sermos felizes. Pode continuar a ser difícil fazer as actividades normais diárias, podemos consumir álcool ou outras drogas para “fugir” aos nossos sentimentos de dor ou podemos até pensar em suicídio.
Se, após seis meses continuamos sem nos sentirmos melhor devemos falar com alguém (um familiar, um Professor ou o Psicólogo da escola) e procurar ajuda. Às vezes a nossa dor é demasiado intensa para conseguirmos lidar com ela sozinhos. Um Psicólogo pode ajudar-nos a lidar com a dor de perder alguém e a recuperar a nossa vida.
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