Sexualidade & Afetos na Adolescência
A sexualidade é uma combinação do sexo e da orientação sexual das pessoas, dos seus sentimentos sexuais pelos outros e dos sentimentos sobre si próprias enquanto seres sexuais. A sexualidade não tem a ver apenas com sexo, mas também com todos os sentimentos e afetos que a envolvem. Explorar e descobrir a nossa sexualidade pode ser confuso, excitante, difícil e maravilhoso, tudo ao mesmo tempo.
Descobrir a sexualidade significa descobrir quem somos sexualmente. Podemos começar a querer ou desejar coisas e pessoas que não queríamos nem desejávamos antes. Por exemplo, podemos experienciar sensações diferentes no nosso corpo que nos fazem querer ter experiências de intimidade com outra pessoa.
O facto de termos pensamentos sexuais e sentimentos sexuais por alguém (ambas as coisas perfeitamente normais, parte de sermos humanos!) não significa necessariamente que tenhamos que as transformar em atos. Podemos explorar os nossos pensamentos sexuais através de fantasias, masturbação, escrita, música, dança… A decisão de ter relações sexuais com alguém é uma decisão importante e complexa, ter sexo significa mais do que fazer uma coisa apenas porque nos faz sentir bem.
Estas mudanças sexuais são difíceis, mas acontecem a toda a gente. Podem ser um choque para nós ou podem acontecer de forma muito gradual. Falar com alguém em quem confiemos (um dos nossos pais, um irmão, um amigo, um professor ou um Psicólogo, por exemplo) sobre o que se está a passar connosco e o que estamos a sentir, pode ser muito útil e ajudar neste processo.
O desenvolvimento da nossa sexualidade acontece a ritmos diferentes para cada um de nós. Por isso é importante explorarmos a sexualidade ao nosso próprio ritmo, sem deixar que ninguém nos pressione a sentir ou a fazer coisas que ainda não queremos fazer ou para as quais não nos sentimos preparados.
Descobrir a sexualidade é também descobrir a nossa capacidade de amar romanticamente. O amor romântico é diferente daquele que sentimos pelos pais, irmãos, amigos ou animais de estimação. É um sentimento intenso, novo, diferente de todos estes tipos de amor.
O Amor
Quando temos oito anos e descobrimos que alguém gosta de nós, podemos ficar um pouco envergonhados ou não ligar nenhuma. Nessa idade o amor não ocupa a nossa cabeça. Mas na adolescência, quando o nosso corpo começa a mudar e os nossos pensamentos mudam também, a ideia de ter um namorado ou namorada pode ser tão excitante que nem conseguimos pensar noutra coisa.
Muitos adolescentes acham que ter um namorado/a é grande parte de ser adolescente. E embora seja verdade que as emoções intensas que vivemos durante a adolescência nos possam levar a sentirmo-nos atraídos por outras pessoas e nos levem a iniciar relações românticas, isso nem sempre acontece. Se formos um dos milhões de adolescentes que nunca se apaixonaram ou tiveram um namorado/a não há nada de errado connosco. Devemos ficar preocupados e arranjar rapidamente um/a namorado/a? Claro que não!
Tudo tem o seu tempo e o mais provável é que, mais tarde ou mais cedo, seja a nossa vez de encontrar o amor.
O amor é uma emoção humana muito poderosa e têm sido muitos os especialistas que a tentam estudar. Mas, na verdade, ninguém compreende inteiramente o que é o amor, até porque o amor é diferente para cada um de nós. O amor tem sido associado a três qualidades principais:
- Atração. Tem a ver com o interesse físico e sexual que duas pessoas sentem uma pela outra. A atracão é responsável pelo desejo que sentimos de beijar a outra pessoa, por exemplo, ou pelas “borboletas no estômago” que sentimos quando ela está perto. Mas não amamos todas as pessoas por quem nos sentimos atraídos!
- Proximidade. É o laço que se desenvolve quando partilhamos com alguém sentimentos e pensamentos que não partilhamos com mais ninguém. Quando nos sentimos próximos do nosso namorado/a, sentimo-nos apoiados, compreendidos e aceites por sermos quem somos. A confiança é uma grande parte da proximidade.
- Compromisso. É a promessa ou a decisão de nos mantermos próximos da outra pessoa durante as fases boas e más da relação.
Estas três qualidades podem ser combinadas de forma diferente e resultam em diferentes tipos de relações. Por exemplo, a atracão sem a proximidade é mais uma paixão – sentimo-nos fisicamente atraídos por alguém mas não conhecemos suficientemente bem a pessoa para sentirmos a proximidade que advém da partilha de sentimentos e experiências pessoais.
No amor romântico combinam-se a atracão e a proximidade. Muitas relações começam por uma atracão inicial e depois desenvolvem a proximidade. Também é possível uma amizade passar da proximidade à atracão, quando dois amigos percebem que se sentem atraídos um pelo outro e que o interesse mútuo vai para lá da amizade.
Algumas pessoas apaixonam-se no secundário e mantém uma relação de compromisso durante a idade adulta. Mas na maior parte das vezes, as relações durante a adolescência são mais curtas. Isto acontece porque a adolescência é uma fase da nossa vida em que queremos experimentar coisas diferentes e andamos à procura daquilo que realmente queremos e nos faz sentir mais confortáveis. Um outro motivo é porque queremos coisas diferentes de uma relação em fases diferentes da nossa vida. Na adolescência, namorar é muitas vezes uma forma de nos divertirmos, de termos companhia para irmos a vários sítios. Também pode ser uma forma de sentirmos que pertencemos ao grupo, sobretudo se a maior parte dos nossos amigos já namoram, podemos sentir-nos pressionados para arranjar um namorado/a. As revistas, a televisão, os filmes, também nos fazem sentir que devíamos apaixonar-nos e namorar.
No final da adolescência, as relações já não têm tanto a ver com nos integrarmos no grupo. A proximidade, a partilha, a confiança em alguém tornam-se mais importantes quer para os rapazes quer para as raparigas. Quando chegam aos 20s a maior parte dos rapazes e raparigas valorizam a proximidade, o apoio, a comunicação e a paixão numa relação. Começam a pensar em encontrar alguém com quem se possam comprometer a longo prazo.
As Relações Saudáveis
Quando nos sentimos prontos para nos aventurarmos numa relação romântica uma das principais preocupações é como é que vamos fazer a relação funcionar. E para isso é fundamental manter uma relação saudável com o/a nosso/a namorado/a.
- Nas relações saudáveis há respeito mútuo. O respeito mútuo significa que cada um valoriza o outro e o compreende, respeitando os limites de cada um. Por exemplo, o nosso/a parceiro/a ouve-nos quando dizemos que não nos sentimos confortáveis com determinada coisa e respeita isso.
- Nas relações saudáveis há confiança. Ou seja, sabemos que podemos contar um com o outro e que ambos queremos o bem-estar um do outro. É normal ter um pouco de ciúmes, ter ciúmes é uma emoção natural. Mas o que interessa é a forma como reagimos e lidamos com os ciúmes. Por exemplo, não é normal que o nosso/a namorado/a se passe da cabeça porque nos vê falar com um outro/a colega da escola. Não é possível termos uma relação saudável se não confiarmos um no outro.
- Nas relações saudáveis há honestidade. A honestidade é a liberdade de sermos como somos, sem fingir. Significa que falamos abertamente e sinceramente, partilhamos os nossos sentimentos e opiniões. A honestidade anda de mão-dada com a confiança, não é possível confiar em alguém que não seja honesto. Já apanhamos o nosso/a namorado/a numa mentira? Numa relação honesta nenhum dos dois está preocupado se o outro está a dizer a verdade, partem do pressuposto que está.
- Nas relações saudáveis há apoio mútuo. E o apoio mútuo não acontece apenas nos períodos maus, quando tudo corre mal, mas também nos períodos bons, quando tudo corre bem. Numa relação saudável temos alguém com quem podemos chorar e alguém com quem podemos celebrar (e somos esse alguém também!).
- Nas relações saudáveis há igualdade. Dá-se e recebe-se. Umas vezes somos nós a escolher o filme que vamos ver, noutras é o nosso/a namorado/a. Umas vezes fazemos programas com os nossos amigos, noutras vezes com os amigos do/a nosso/a namorado/a. Claro que não precisamos de andar a contar quantas vezes fazemos estas coisas. A ideia é que deve ser equilibrado e justo. As relações deixam de ser saudáveis rapidamente quando uma pessoa quer ser sempre ela a mandar, a decidir, a controlar.
- Nas relações saudáveis temos identidades separadas. Numa relação saudável temos de fazer compromissos. Mas isso não significa deixarmos de ser quem somos. Antes desta relação ambos tinham a sua própria família, amigos, interesses, etc. e isso deve continuar! Ninguém deve ter de fingir ser uma coisa que não é, deixar de ver amigos ou largar atividades de que gosta.
- Nas relações saudáveis há privacidade. Lá porque estamos numa relação não quer dizer que tenhamos que partilhar tudo e que tenhamos que estar o tempo todo juntos. Nas relações saudáveis para além de tempo a dois, cada um tem o seu espaço.
- Nas relações saudáveis há uma boa comunicação. Uma boa comunicação significa que é possível falar livremente, sem assuntos tabu, que podemos expressar os nossos sentimentos e pensamentos sem sentirmos receio de sermos julgados. Para que exista uma boa comunicação é igualmente importante perguntarmos e esclarecermos se estamos a perceber o que o/a nosso/a namorado/a nos está a dizer. Se não temos a certeza devemos falar abertamente e honestamente para evitar problemas de comunicação. Não devemos calar um sentimento ou um desejo porque temos medo que o/a nosso/a namorado/a não goste ou porque temos receio de parecemos parvos/as. Numa relação saudável temos o tempo que precisamos para pensar num assunto antes de termos de falar sobre ele.
- Nas relações saudáveis há reciprocidade. Em todos os aspetos, incluindo os emocionais e sexuais. Ambos os parceiros se preocupam, ambos cuidam, ambos estão interessados em proporcionar prazer um ao outro.
Para sabermos se a nossa relação é ou não saudável temos de saber reconhecer a forma como o nosso/a namorado/a nos trata e como o/a tratamos a ele/a. Estas características das relações saudáveis estão presentes? Como nos sentimos quando estamos com ele/a?
Numa relação saudável sentimo-nos confortáveis em partilhar os nossos sentimentos, pensamentos e experiências; as coisas privadas que partilhamos mantêm-se entre os dois; podemos falar e resolver conflitos; preocupamo-nos com a outra pessoa e a sua opinião; sentimo-nos amados e valorizados simplesmente por sermos quem somos (não pelas nossas roupas, pela nossa aparência, pelo nosso carro, etc.).
As Relações Podem Ser Difíceis!
Já todos ouvimos dizer que para gostarmos de alguém precisamos de gostar de nós próprios em primeiro lugar. De facto, é uma grande barreira quando numa relação uma das pessoas tem problemas de autoestima. O/a nosso/a namorado/a não serve para nos sentirmos bem connosco próprios se não o conseguimos fazer sozinhos.
Quando sentimos que o/a nosso/a namorado/a exige demasiado de nós, se a relação é mais um fardo e uma fonte de problemas do que de alegria, então provavelmente não é o par certo para nós.
Relações muito intensas podem ser difíceis para os adolescentes. Quando somos adolescentes estamos focados em desenvolver os nossos sentimentos e responsabilidades, por isso pode não nos restar energia para responder aos sentimentos e necessidades de outra pessoa. Para além disso, ainda estamos a crescer e a mudar, todos os dias. A pessoa que parecia perfeita para nós há uns meses atrás, pode já não o ser. E é melhor ficarem amigos do que investirem numa relação que já não parece certa.
Quer estejamos sozinhos ou numa relação devemos ser “picuinhas” quando escolhemos alguém para manter uma relação próxima. Se não nos sentirmos preparados para uma relação não é um problema!
Alguns Mitos sobre Relações
Os media, a música que ouvimos ou os filmes que vemos podem transmitir-nos algumas ideias erradas sobre o que são as relações ou como nos devemos comportar numa relação. É importante destruir alguns desses mitos:
- Ter sexo com alguém não equivale a ter uma relação com alguém. Devemos, no entanto, deixar sempre claro para o outro qual é a nossa intenção e perceber se o outro tem as mesmas expectativas.
- As relações não são uma competição.
- O amor não é instantâneo.
- É normal (e até desejável!) ter de trabalhar e termos de nos esforçar para construir uma relação de amor e fazê-la funcionar.
- Os homens não mandam numa relação. Ambos os parceiros mandam na relação e são responsáveis por fazê-la funcionar.
- Não são apenas as nossas características físicas que interessam nem são elas que determinam se ou quem vamos namorar.
Quando Uma Relação Termina
Terminar uma relação é uma experiência dolorosa. Sobretudo se é o nosso primeiro amor ou se a relação terminou sem nós querermos que isso acontecesse. Podemos sentir-nos completamente esmagados e devastados. Por algum motivo existe a expressão “coração partido”…
Às vezes, alguns adultos esperam que, como somos adolescentes e a relação que terminámos era uma relação entre adolescentes, ultrapassemos isso e pronto. Mas se estamos a sofrer é importante sentirmos o apoio de alguém em quem confiemos (um dos nossos pais, um irmão, um amigo, um Professor ou um Psicólogo).
Ao início é difícil imaginar que nos vamos sentir melhor. Mas devagarinho os nossos sentimentos vão tornar-se menos intensos e, eventualmente, até iniciaremos uma nova relação. As relações que vamos mantendo ao longo da vida são sempre oportunidades de experimentar o amor e de aprender a amar e a sermos amados.
Se a tristeza e a dor de terminar uma relação está a controlar a nossa vida e isso é a única coisa em que conseguimos pensar, devemos procurar ajuda, falar com um Professor ou um Psicólogo pode ajudar ((hiperligação para Procurar Ajuda).
Decidir Ter Relações Sexuais
O sexo é um assunto complexo, quer para os adultos quer para os adolescentes. Isto porque ser sexualmente ativo envolve emoções profundas e pode mudar as relações (nem sempre para melhor).
A pressão para deixar de ser virgem é intensa quer para os rapazes quer para as raparigas. Às vezes parece que toda a gente na escola não fala sobre outra coisa: quem é, quem não, quem pode ser. E que ser virgem ou não é uma espécie de condição para pertencermos ou não ao grupo, para sermos aceites.
Decidir ter relações sexuais com alguém é uma decisão muito importante. Da primeira vez sobretudo, mas também das restantes. Cada um tem de confiar no seu julgamento e decidir se é a altura certa e a pessoa certa.
O sexo não tem apenas consequências físicas (ex. engravidar, contrair uma doença sexualmente transmissível), mas também emocionais. O sexo relaciona-se com prazer tal como se relaciona com responsabilidade. Para além de termos consciência e conhecermos os factos sobre menstruação, ovulação, recção, ejaculação, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, precisamos igualmente de ter consciência do impacto emocional das relações sexuais. Se nos tornamos sexualmente ativos sem estarmos preparados podemos sentir-nos esmagados e confusos pelos sentimentos que este tipo de intimidade gera. As relações sexuais deixam as pessoas mais emocionalmente vulneráveis e próximas uma da outra. Quando não confiamos inteiramente no nosso parceiro ou não nos sentimos totalmente respeitados/as, ter relações sexuais pode fazer-nos sentir magoados, traídos, sozinhos. Por isso, é realmente algo importante, embora alguns dos nossos amigos ou os filmes que vemos na televisão possam encará-lo como algo muito simples e banal.
Uma vez que os nossos valores morais, as nossas crenças religiosas, a educação que tivemos da nossa família e as nossas emoções são diferentes, não é uma boa ideia confiar na opinião dos nossos amigos para decidir se é a altura certa para fazer sexo. A longo prazo, ter relações sexuais para impressionar alguém, fazer o/a nosso/a namorado/a feliz ou sentirmos que temos alguma coisa em comum com os nossos amigos não nos vai fazer sentir muito bem connosco próprios. Para além disso, um verdadeiro amigo ou par romântico não quer saber se somos ou não virgens e respeita as nossas decisões, sejam elas quais forem.
Nas relações entre adolescentes é comum um querer manter relações sexuais e o outro não. E isso pode causar algum stresse na relação. No entanto, tal como em qualquer outra decisão importante da nossa vida devemos fazer aquilo que nós achamos certo para nós e não aquilo que outra pessoa acha que devemos fazer. Não é boa ideia ter sexo só porque o/a nosso/a namorado/a quer e está preparado para isso.
Se alguém nos tentar pressionar dizendo coisas como “se realmente gostasses de mim, não dizias que não”, na verdade, não se preocupa nem gosta de nós. Está apenas a tentar satisfazer os seus próprios sentimentos sexuais. Se sentirmos que temos que fazer sexo porque temos medo de perder a outra pessoa, então talvez seja melhor ponderarmos terminar a relação.
No que diz respeito a ter relações sexuais há duas coisas importantes das quais nos devemos lembrar: 1) somos nós os responsáveis pela nossa felicidade e pelo nosso corpo; 2) podemos esperar todo o tempo que for preciso até nos sentirmos seguros da decisão de ter ou não sexo.
Mesmo que já tenhamos tido relações sexuais anteriormente (com o nosso namorado/a atual ou outra pessoa) a decisão de continuar a ter relações sexuais é sempre nossa. Podemos não querer ter relações sexuais a qualquer momento, seja quem for a pessoa com quem estamos numa relação.
Quando nos sentimos confusos acerca de decisões relacionadas com sexo podemos falar com alguém em quem confiemos, de preferência um adulto (um dos nossos pais, um professor, um Psicólogo). Embora outras pessoas possam ter conselhos úteis para nós, no fim, a decisão será sempre nossa.
Ao longo do livro são apresentadas questões para reflexão, ajudando a criança ou jovem a promover competências tão diversas com a resolução de problemas, a empatia, a assertividade ou, ainda, a capacidade em pedir ajuda.
Da coleção “Prevenir”. +info
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