Falar com os Pais
A Mãe e o Pai (ou a Madrasta e o Padrasto, a Avó ou o Avô) são das pessoas mais importantes na nossa vida. Provavelmente estamos com eles todos os dias e são das pessoas que mais nos irão influenciar ao longo da nossa vida.
Os Pais cuidam de nós desde que nascemos. O trabalho deles é amar, cuidar e guiar os filhos – e a maior parte dos pais fá-lo-á enquanto viverem, mesmo quando os filhos já são crescidos e até já têm os seus próprios filhos!
Isto significa que, à partida, partilharemos a nossa vida com os nossos Pais durante muito tempo. Por isso é importante que tenhamos com eles uma boa relação. O que podemos fazer para ajudar a construir uma boa relação com os nossos Pais?
- Passar tempo juntos. É fácil estarmos no mesmo espaço que os nossos Pais (sobretudo se vivermos todos na mesma casa). Mas quanto desse tempo é que passamos a usufruir da sua companhia, a fazer coisas juntos? Em vez de irmos jogar consola ou ver TV podemos perguntar aos nossos pais se querem fazer alguma coisa diferente connosco (por exemplo, jogar cartas ou fazer uma construção de Lego, ou então, jogar consola ou ver um filme juntos). Quando os nossos Pais estão divorciados, temos de aproveitar o melhor possível o tempo que temos com cada um deles. Pelo meio podemos sempre falar ao telefone (ou fazer videoconferência) e enviar mensagens e emails.
- Partilhar os nossos sentimentos e pedir ajuda. Todos nós queremos que os nossos Pais nos ajudem quando estamos aborrecidos ou tristes. Mas nem sempre os nossos Pais adivinham que nós temos um problema para o qual gostávamos da ajuda deles. É importante partilharmos com eles o que estamos a sentir e pedir directamente ajuda quando temos um problema. Pode parecer esquisito fazê-lo, mas provavelmente o resultado será bom e no final vamos ficar satisfeitos pelo facto de o termos feito.
- Ser amável. Às vezes, pequenas coisas e pequenos gestos podem ter uma importância e um significado grande para os nossos Pais. Pode bastar um abraço, um cartão desenhado por nós, uma piada para lhes alegrar o dia! Os Pais também ficam maravilhados quando nos oferecemos para dobrar a roupa ou arrumar o nosso quarto sem terem de nos pedir.
- Mostrar carinho. Algumas famílias andam sempre aos beijinhos e aos abraços. Outras famílias não são tão expressivas. Mas é importante arranjar formas de expressar o nosso carinho pelos nossos pais.
É claro que falamos com os nossos Pais. É fácil dizer “Olá Mãe!” ou “Pai, passas-me as batatas, por favor?”. Mas às vezes queremos mesmo falar com eles, sobre um tema difícil ou um problema que não conseguimos resolver sozinhos. Nessas alturas falar com os Pais não parece tão fácil. Mesmo que há uns tempos atrás lhe contássemos tudo sobre a nossa vida, sem qualquer dificuldade. Ainda assim, mesmo sendo mais velhos é perfeitamente OK confiar nos nossos Pais e pedir-lhes ajuda. Aliás, pode ajudar-nos muito!
Algumas estratégias que nos podem ajudar:
- Ganhar coragem e decidir falar. Não vale a pena evitar a conversa, os nossos problemas ou preocupações não vão desaparecer só por evitarmos falar com os nossos Pais. Pelo contrário, a maior probabilidade é que falar com eles diminua imediatamente o nosso stresse e ansiedade. Para além de que quanto mais tempo esperarmos para falarmos sobre assuntos difíceis, mais ansiosos ficamos. E se os nossos Pais descobrem que lhe andámos a esconder alguma coisa, pode ser mais difícil ter uma boa conversa. Porque é que às vezes nos sentimos tão desconfortáveis só de pensar em falar com os nossos Pais sobre um assunto importante? Às vezes é porque não nos queremos sentir envergonhados, afinal falar sobre assuntos pessoais pode ser embaraçante. Mas os nossos Pais conhecem-nos bem e já tiveram a nossa idade, um bocadinho de vergonha não nos deve impedir de falar com eles! Outras vezes, podemos não querer preocupar ou aborrecer os nossos Pais. Embora possam fazer uma cara triste ou muito séria quando falamos com eles, conseguem lidar com os nossos problemas (grandes ou pequenos) e a sua expressão só significa que se preocupam connosco e nos querem ajudar. Outras vezes ainda, achamos que se não falarmos de determinado problema, pode ser que ele desapareça. Mas empurrar um problema “para debaixo do tapete” não o resolve e não desabafar os nossos sentimentos só nos fará sentir pior. Muitas vezes basta uma pequena conversa com os nossos Pais para nos sentirmos melhor e arranjarmos forma de resolver os nossos problemas.
- Planear a conversa. Pode parecer um bocadinho parvo, mas se for uma conversa importante pode ajudar pensar um pouco antes de a ter. Com quem vamos falar? Com a Mãe, o Pai ou ambos? Alguns assuntos podem ser mais fáceis de discutir com a Mãe, outros com o Pai. Às vezes pode ser melhor falar com o pai mais calmo. Faz mal se os nossos irmãos estiverem por perto? Quando? É preferível escolher uma altura do dia em que haja tempo. De manhã, antes de ir para a escola, com toda a gente com pressa, é capaz de não ser a altura ideal. Podemos avisar os nossos Pais que queremos falar e perguntar qual será a melhor altura. Onde? Em casa? No carro? Durante um passeio a pé? Antes de deitar?
- Como começar? Pode ser uma boa ideia começar por dizer aos nossos Pais o que precisamos. Por exemplo, queremos apenas que nos oiçam e compreendam aquilo pelo qual estamos a passar? Queremos que eles nos deixem fazer alguma coisa ou que nos apoiem nalguma coisa? Queremos conselhos ou ajuda? Queremos ajuda para resolver um problema sem que se zanguem connosco? Quando não sabemos por onde começar, pode ajudar tentarmos escrever: “Mãe, preciso da tua ajuda para um problema”, “Pai, preciso da tua autorização para uma visita de estudo. Posso falar-te sobre isso?”, “Avó preciso da tua opinião sobre uma coisa. Podemos falar?” ou “Mãe, fiz uma coisa errada. Vais ficar zangada, mas eu quero resolver as coisas e preciso da tua ajuda. Posso contar-te?”. A conversa vai desenvolver-se naturalmente, não precisamos de planear toda a conversa!
- Durante a conversa. Devemos ser sempre honestos, neste caso é fácil para os nossos Pais acreditarem no que dizemos. Se de vez em quando mentimos, omitimos algumas coisas ou somos muito dramáticos, torna-se mais difícil os Pais acreditarem e confiarem em nós. Quando discordamos devemos tentar entender o outro lado. Dizer aos nossos Pais que compreendemos o seu ponto de vista e sentimentos ajuda-os a compreender os nossos também. É mais provável que os nossos Pais nos ouçam e nos levem a sério se falarmos com calma e respeitosamente, sem gritar ou sermos malcriados ou gozões quando não concordamos com alguma coisa.
- Correu bem? Podemos saber o que queremos que aconteça depois da conversa, mas devemos estar preparados para acontecerem coisas diferentes (os nossos Pais darem-nos uma resposta diferente) daquela que esperávamos. Se o resultado não for aquele que desejávamos podemos tentar falar com os nossos Pais novamente, numa outra altura (talvez os tenhamos apanhado num dia menos bom…). Mas às vezes temos mesmo de desistir e aceitar o ponto de vista dos nossos Pais, sobretudo quando ambas as partes já tiveram oportunidade de expor os seus argumentos. Mostrar aos nossos Pais que temos maturidade suficiente para respeitar a sua perspectiva pode ajudar a que sejam mais receptivos aos nossos pedidos no futuro.
E quando não resulta mesmo falarmos com os nossos Pais? Na maior parte dos casos conseguimos ter uma boa conversa com os Pais. Mas nem sempre é assim. Alguns Pais têm os seus próprios problemas e estão pouco disponíveis ou não estão disponíveis da forma que os filhos precisam. Outros não são muito flexíveis e é realmente difícil conversar com eles. Quando não conseguimos falar com os nossos Pais podemos procurar outros adultos em quem possamos confiar – outro familiar, um Professor ou o Psicólogo da escola, por exemplo.
Nunca é tarde demais para falar com os nossos Pais. Se não temos uma relação com os nossos Pais que nos permita falar com eles todos os dias sobre nós, as coisas do dia-a-dia e os nossos problemas, nunca é tarde demais para começar. Mesmo que, por exemplo, há mais de um ano não falemos com os nossos pais, podemos sempre começar. Basta um “olá”. Podemos dizer: “só queria contar-te o que se tem passado comigo e falar um bocadinho. Não falamos há uns tempos e queria que soubesses o que se tem passado comigo”.
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