SUCESSO ESCOLAR
Suicídio
Ser adolescente não é fácil. São muitas pressões sociais, escolares e pessoais. E para os adolescentes que têm de lidar com outros problemas (como viver num ambiente violento ou abusivo) a vida pode ser ainda mais difícil. Alguns adolescentes preocupam-se com a sua sexualidade e relações, receiam que os seus sentimentos ou atracções não sejam normais ou questionam-se se serão algum dia amados e aceites (hiperligação para Atracção e Orientação Sexual, Relações Abusivas, Violência no Namoro). Outros lutam com problemas da sua imagem corporal ou comportamento alimentar (hiperligação para Comportamentos Alimentares). Outros ainda têm problemas de aprendizagem ou atenção que criam obstáculos ao sucesso escolar, podem sentir-se desapontados consigo próprios ou sentir que são uma desilusão para os outros.
Todos estes problemas podem ser muito complicados de gerir e fazem os adolescentes sentirem-se sem apoio e sem esperança de os conseguirem resolver. O suicídio é a segunda causa de morte entre os adolescentes, segundo a OMS. Há ainda estudos que indicam que, por cada suicídio, há outras 25 tentativas sem consumação.
Quando vivemos muitas perdas, nos sentimos um fracasso, sobrecarregados por problemas pessoais ou familiares, ou mesmo sem sabermos bem porquê, podemos ficar presos na nossa dor e acreditar que não existem soluções para os nossos problemas. Sentimo-nos impotentes para mudar a nossa vida e a ideia de morrer, de suicídio, pode dar-nos a ilusão de algum conforto e controlo sobre a situação.
Os pensamentos e sentimentos suicidas também podem ser aterrorizantes. Quando já não conseguimos ver nenhum propósito ou sentido em continuarmos a viver, os nossos sentimentos podem parecer insuportáveis. Podemos odiar-nos e acreditar que somos inúteis, que não fazemos falta a ninguém e que ninguém gosta e se importa realmente connosco. Podemos sentir raiva, vergonha e culpa.
Para alguns adolescentes, o motivo que os levou a tentar suicidar-se foi tentar escapar de uma situação que lhes parecia impossível serem capazes de resolver ou para ter algum alívio de pensamentos e sentimentos muito negativos e dolorosos. Outros procuravam escapar de sentimentos de rejeição ou perda, sentiam-se zangados ou culpados por alguma coisa, indesejados ou um fardo para outras pessoas. Na verdade, não queriam tanto assim morrer, mas sim escapar daquilo que se estava a passar na sua vida naquele momento. E, nessa altura, morrer parecia-lhes a única saída.
Sabemos que entre os adolescentes que se suicidam ou pensam suicidar-se existem alguns aspectos em comum: estão em grande sofrimento psicológico e perderam a esperança; a morte parece-lhes a única forma de escapar à dor que sentem; sentem-se sozinhos, sem qualquer valor como pessoas, apenas um fardo para os outros; querem desesperadamente ser ajudados, mas têm demasiado receio de falar com alguém e não serem compreendidos; querem, de alguma forma, “ficar na história” ou “deixar a sua marca” e vêem no suicídio a única forma de o fazerem.
Muitas vezes isolamo-nos dos outros e é difícil partilhar com a família e os amigos o quão mal nos sentimos. Às vezes nem para nós próprios é assim tão claro que queremos morrer. Podemos sentir-nos indiferentes, confusos ou ter a esperança que alguém nos compreenda e nos ajude. Nem sempre pensar sobre suicídio significa que queremos realmente morrer. Muitas pessoas pensam sobre suicídio e a maior parte delas não leva esses pensamentos até ao fim e se mata.
Muitas pessoas experienciam vontade de se suicidar e pensamentos suicidas como parte de um problema de Saúde Psicológica ou quando experienciam problemas de saúde física graves e dolorosos. Algumas vezes o suicídio é planeado, mas outras vezes as tentativas de suicídio acontecem por impulso, num momento de desespero.
Existem alguns sinais que podem indicar que alguém está a pensar suicidar-se:
- Ameaçar directa (por exemplo, “vou matar-me”) ou indirectamente (por exemplo, “quem me dera adormecer e nunca mais acordar”) suicidar-se;
- Planos e cartas de despedida (incluindo publicações online);
- Falar sobre suicídio ou sobre a morte;
- Escrever canções, poemas ou cartas sobre a morte;
- Falar sobre “ir embora”, “não estar mais aqui”, “desaparecer”, “não vou ser um problema para vocês durante muito mais tempo”;
- Referir-se a coisas de que não vai precisar ou dar objectos pessoais;
- Falar sobre sentir-se desesperado ou culpado;
- Afastar-se de amigos e familiares e perder o interesse em sair de casa;
- Perder o interesse pelas actividades ou passatempos favoritos;
- Ter dificuldade em concentrar-se e em pensar com clareza;
- Perder interesse na escola ou actividades desportivas;
- Irritabilidade, tristeza ou ansiedade;
- Alterações nos hábitos alimentares e de sono;
- Manifestar comportamentos autodestrutivos (beber álcool em excesso, consumir drogas, auto mutilar-se…);
- Manifestar-se subitamente alegre após um período de tristeza.
Embora muitos adolescentes que tentam suicidar-se tenham manifestado alguns sinais, outros não deram qualquer tipo de “pista” de que estavam a pensar suicidar-se.
É importante que os Assistentes Operacionais estejam atentos e possam providenciar ajuda caso seja necessária. Alguns adultos consideram que os adolescentes que falam em suicidar-se estão apenas a querer “chamar a atenção”. No entanto, é importante não ignorar estas afirmações e saber que quando os adolescentes são ignorados quando pedem atenção/ajuda, isso pode aumentar a probabilidade de, de facto, colocarem em risco a própria vida.
Como podem os Assistentes Operacionais ajudar um aluno com ideação suicida?
- Não ignorar os problemas, não desvalorizar os sinais de alerta nem descartar uma ameaça como sendo “apenas” uma “chamada de atenção”. Se está preocupado, confie nos seus instintos e não espere apenas que a situação melhore. Fale com o Psicólogo da Escola sobre os seus receios.
- Procurar ajuda. As situações de automutilação, tentativas de suicídio e suicídio são muito complexas. O adolescente deve ser encaminhado para um Profissional de Saúde. Encaminhe o aluno para o Psicólogo da Escola.
- Se o adolescente tem um plano e meios para atentar contra a própria vida é importante agir de imediato. Não deixe o adolescente sozinho e contacte um número de emergência (112 – Serviço Nacional de Socorro).
Automutilação
A automutilação consiste na realização intencional de comportamentos de agressão ao próprio corpo, sem intenção de provocarem a morte. Existem muitos tipos de comportamentos de automutilação, por exemplo, cortar-se (utilizando lâminas, facas ou outros objetos afiados), beliscar-se, esmurrar objetos (como uma parede), queimar-se (utilizando cigarros, fósforos ou velas), arrancar o cabelo ou tentar partir ossos do próprio corpo.
A automutilação afeta menos de 10% dos adolescentes e é mais frequente nas raparigas, embora também aconteça com os rapazes. A automutilação surge quando lidar com a dor física se parece mais fácil do que lidar com a dor e o sofrimento emocional. Normalmente acontece em segredo, sem ninguém saber.
Podemos entender a automutilação como uma forma (não saudável) que alguns adolescentes utilizam para lidar com as emoções quando elas lhes parecem insuportáveis. Para alguns adolescentes que não conseguem exprimir os seus sentimentos de outra forma, a automutilação é vista como uma forma de “pelo menos sentir alguma coisa”, de se libertarem de sentimentos desconfortáveis, de se “castigarem” por se sentirem culpados ou envergonhados, de se sentirem aliviados ou de pararem de pensar/sentir emoções muito negativas (raiva, solidão ou desespero, por exemplo).
O problema é que o “alívio” que sentem é apenas temporário, as suas emoções e as circunstâncias que as causam, permanecem.
Embora a automutilação possa começar por um simples impulso, acaba, muitas vezes, por se tornar um hábito.
Os adolescentes que se auto mutilam não o fazem apenas para “chamar a atenção”. A automutilação é um problema de Saúde Psicológica. E pode estar associada a outros problemas de Saúde Psicológica, como a Depressão ou a Ansiedade.
Alguns sinais podem indicar comportamentos de automutilação:
- Ter cortes, cicatrizes, queimaduras ou nódoas negras;
- Apresentar desculpas para os cortes/cicatrizes/queimaduras/nódoas negras;
- Usar roupa de manga comprida ou calças mesmo com muito calor;
- Evitar as aulas de Educação Física por ter de trocar de roupa nos balneários em frente a outras pessoas;
- Comportamento que revela secretismo;
- Isolar-se dos amigos.
Se identifica comportamentos de automutilação num aluno é fundamental procurar ajuda de um Profissional de Saúde. O Psicólogo da Escola pode ajudar. É muito importante conhecer os sinais que podem indicar comportamentos de automutilação e prestar-lhes atenção – quanto mais cedo os comportamentos de automutilação forem reconhecidos, mais fácil será terminá-los.
Se um aluno falar consigo sobre os seus comportamentos de automutilação é porque confia em si e quer ajuda. Ouça-o sem fazer julgamentos, mostre que se preocupa e não minimize a gravidade da situação (não assuma que é apenas uma fase ou que o aluno conseguirá parar estes comportamentos sozinhos). Encaminhe-o para um Profissional de Saúde, nomeadamente o Psicólogo da Escola.
Agressividade e Violência
Todos nós nos sentimos zangados de vez em quando. É uma resposta natural quando nos sentimos atacados, insultados, enganados ou frustrados. Normalmente, quando isso acontece, expressamos a nossa zanga e seguimos em frente.
No entanto, a raiva que sentimos pode ser assustadora. Faz-nos ficar tensos e é difícil lidar com ela de modo construtivo. O nosso coração bate mais depressa, respiramos e reagimos mais rápido e nem sempre conseguimos pensar bem, às vezes reagimos de uma forma da qual nos arrependemos mais tarde: podemos gritar, chamar nomes, bater em alguém ou partir objetos.
Estar zangado não é um problema, mas a forma como lidamos com a zanga e a raiva pode ser. A zanga torna-se um problema quando nos leva a magoar os outros ou a nós próprios. Quando não expressamos a nossa raiva ou a expressamos de forma e em alturas desadequadas, podemos prejudicar-nos a nós e às nossas relações.
Às vezes, a nossa zanga não é com algo que tenha acontecido no presente, mas sim no passado. Nessa altura não fomos capazes ou não pudemos exprimir a nossa zanga e, por isso, ela acumulou- se dentro de nós. O problema é que no futuro nos podemos mostrar demasiado zangados ou agressivos com uma situação diferente, que não justifica a nossa agressividade.
Quando não conseguimos controlar e expressar a nossa raiva e a nossa zanga de forma segura, isso pode ser um sinal da existência de problemas de saúde psicológica. Pode levar à depressão, ansiedade, dificuldades em dormir, adições (ao álcool, drogas), perturbações alimentares, comportamentos compulsivos ou doenças físicas.
Quando sentimos que nos zangamos muito depressa e muito frequentemente, às vezes por “coisas pequenas”, e que não somos capazes de controlar a nossa raiva, devemos procurar ajuda. Um Psicólogo pode ajudar-nos a encontrar uma forma construtiva de gerir os nossos sentimentos agressivos.
Podemos observar manifestações de zanga e de raiva semelhantes nas crianças e nos adolescentes, seja contra os Pais, os amigos, a escola ou até mesmo eles próprios. A agressão pode ser física, verbal ou ambas. As crianças e adolescentes com comportamentos agressivos envolvem-se em lutas, têm dificuldade em respeitar a autoridade e em seguir instruções em casa ou na escola e usam o comportamento agressivo como forma de resolver os seus problemas ou expressar as suas emoções.
Os comportamentos agressivos têm um impacto negativo no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Este tipo de comportamentos pode afectar a forma como aprendem e como interagem com os outros e está associado a resultados negativos: delinquência, consumo de substâncias ou dificuldades escolares e de adaptação à vida adulta. Os comportamentos agressivos podem também ser sinais de problemas de Saúde Psicológica na infância/adolescência.
Gerir o comportamento agressivo de uma criança ou adolescente é muito cansativo e pode ser frustrante para os Professores, até porque desperta sentimentos de agressividade em si próprios. Ajudar as crianças e adolescentes a encontrar e utilizar formas construtivas de expressar a agressividade exige paciência e esforço e deve ter como objetivo proteger e ajudar (em vez de castigar).
Como podem os Assistentes Operacionais ajudar os alunos com comportamentos agressivos?
- Elogiar os alunos quando têm comportamentos adequados. Nenhuma criança ou adolescente se “porta sempre mal” ou “é sempre agressivo”. Quando a criança ou adolescente se comporta de forma correta deve ser elogiada pelo comportamento positivo.
- Responder imediatamente ao comportamento agressivo. Embora seja possível ignorar comportamentos minimamente desadequados, o comportamento agressivo nunca deve ser ignorado.
- Permanecer calmo e modelar o comportamento. Todas as crianças aprendem por imitação. Modele um comportamento calmo e não agressivo, mostrando controlo sobre as suas próprias emoções. Mostre à criança/adolescente que existem formas adequadas de expressar emoções fortes e/ou negativas, assim como de resolver problemas.
- Estabelecer as regras e as consequências. Ser claro sobre as regras, o que espera do comportamento da criança e adolescente e o que irá acontecer caso as expectativas não sejam cumpridas. Se alguma regra for violada, não avise, implemente imediatamente a consequência previamente estabelecida.
- Ensinar estratégias de resolução de problemas. Quando uma criança bate no colega não se lhe deve perguntar “Porquê” (“porque é que bateste ao teu colega?”), uma vez que esta pergunta dará apenas azo a que arranje uma desculpa ou razão para um comportamento inadequado. Em vez disso, devemos perguntar-lhe “O que estavas a tentar conseguir?”, uma vez que dessa forma conseguimos uma oportunidade de lhe mostrar o que podem fazer de forma diferente da próxima vez.
- Evitar confrontar o aluno em público e preferir fazê-lo em privado.
- Monitorizar constantemente o comportamento do aluno, sobretudo em situações que podem dar azo a comportamentos agressivos.
- Encaminhar o aluno para um Profissional de Saúde, nomeadamente o Psicólogo da Escola.
Défice de Atenção e Hiperactividade
As crianças com Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA) têm dificuldade em concentrar-se e tomar atenção durante muito tempo, distraem-se facilmente, fazem as coisas sem pensar e são demasiado activas (por exemplo, é-lhes difícil estar sentadas e quietas no mesmo sítio). Também não é fácil para elas seguirem regras ou esperar (por exemplo, podem interromper as conversas ou falar por cima dos outros).
Estes comportamentos são mais frequentes e piores do que aqueles que são habituais nas crianças com a mesma idade. Acontecem em contextos e sítios diferentes: na escola, em casa, no parque infantil ou no supermercado.
Os comportamentos relativos ao défice de atenção incluem sinais como a dificuldade em prestar atenção aos pormenores ou tendência para fazer erros; dificuldade em manter-se focado nas tarefas ou nas brincadeiras; dificuldade em seguir instruções e regras; dificuldades de organização; evitar tarefas que requeiram esforço mental; tendência para perder coisas (cadernos, brinquedos, etc.); distracção frequente; esquecer-se de fazer actividades diárias (por exemplo, lavar os dentes).
Os comportamentos relativos à hiperactividade incluem sinais como inquietação constante, dificuldade em permanecer sentado, correr e trepar excessivamente, dificuldade em brincar calmamente, falar em excesso, responder ainda antes de ouvir a pergunta completa, dificuldade em esperar pela sua vez e interromper os outros.
O mais frequente é as crianças ou os adolescentes apresentarem uma combinação destes comportamentos. E todas correm o risco de terem baixa auto-estima (porque não conseguem controlar o seu comportamento como as outras crianças; por causa das dificuldades no desempenho académico; por fazerem erros frequentes apesar do esforço para seguir as instruções; porque os adultos passam mais tempo a reparar nos seus erros do que nos aspectos positivos do seu comportamento), problemas nas relações entre pares (devido à dificuldade de gestão da frustração e de seguir regras, as outras crianças podem não querer brincar com elas) e maior probabilidade de experimentarem álcool, drogas e sintomas depressivos.
Por causa destas dificuldades algumas crianças também têm problemas na escola e na realização das tarefas escolares, sentem-se ansiosas e com pouca auto-estima, têm dificuldade em manter os seus amigos e podem ter um comportamento desafiante e agressivo.
É importante ter em consideração que as crianças e os adolescentes com PHDA não são “más”, não estão a “fazer de propósito” ou a “chamar a atenção”. Elas têm realmente dificuldade em controlar o seu comportamento.
Na verdade, qualquer um de nós (crianças, jovens ou adultos) pode experienciar períodos de falta de concentração, impulsividade ou hiperactividade. Mudanças importantes na nossa vida também podem, temporariamente, provocar comportamentos que são típicos da PHDA. Por isso é importante que o diagnóstico desta perturbação seja precedido de uma avaliação rigorosa realizada por um ou mais profissionais de saúde, entre os quais o Psicólogo.
Ouvimos falar muito em crianças hiperactivas e parece existir alguma tendência para explicar o mau desempenho e o mau comportamento das crianças pela presença de PHDA. No entanto, apenas 5% das crianças sofre desta perturbação e em Portugal esta percentagem é ainda mais baixa.
Existem tratamentos eficazes para a PHDA – farmacológicos e psicológicos: é possível gerir os comportamentos de uma criança com hiperactividade e melhorar a sua qualidade de vida. Se identifica estes sinais num aluno, procure ajuda junto do Psicólogo da Escola.
Comportamentos Alimentares
Todos temos diferentes hábitos alimentares e é normal que a forma como comemos seja afectada quando nos sentimos sob pressão, em sofrimento ou em stresse. Podemos desejar um alimento em particular (como o chocolate), perder o apetite, comermos mais ou nem sermos capazes de comer. Quando essas situações difíceis passam, voltamos a comer normalmente.
Já todos comemos um pacote de bolachas porque estávamos aborrecidos ou devorámos uma tablete de chocolate enquanto estudávamos para um teste que nos estava a preocupar.
No entanto, se durante um período de tempo mais longo comemos muito pouco ou em demasia, nos preocupamos excessivamente com o nosso peso ou com o aspecto do nosso corpo, podemos desenvolver uma perturbação alimentar. A comida pode tornar-se cada vez mais importante na nossa vida e, nalguns casos, torna-se a coisa mais importante e à volta da qual a nossa vida gira. Podemos negar comida a nós próprios mesmo quando temos fome, ou comer constantemente ou comer compulsivamente. Podemos pensar constantemente em comida ou no nosso peso.
As perturbações alimentares são muito mais do que iniciar uma dieta ou fazer exercício físico todos os dias. Representam padrões extremos de comportamento alimentar e formas de pensar sobre a alimentação, sobre as quais não sentimos controlo. Por exemplo: dietas sucessivas ou uma dieta que se torna muito restritiva; deixar de sair com os amigos porque é mais importante ir correr para “abater” um bolo que se comeu ao almoço.
Desta forma, a alimentação pode afectar negativamente a nossa vida. Mas não se trata apenas de “comida” e “comer”. As perturbações alimentares também dizem respeito a problemas complexos e a sentimentos dolorosos – difíceis de expressar, confrontar e resolver. Às vezes, focando-nos na comida estamos a desviar a (nossa) atenção de outros problemas.
Existem várias perturbações alimentares, como a anorexia, a bulimia ou as compulsões alimentares. Todas elas implicam uma preocupação exagerada com a alimentação, o exercício físico, o peso ou a forma do corpo.
Podemos estar a comer compulsivamente quando utilizamos a comida em situações em que nos sentimos “em baixo” e precisamos de apoio emocional, quando nos sentimos infelizes e comemos como forma de conforto. Podemos passar o dia a comer sem conseguirmos parar ou dar por nós a comer uma quantidade exagerada de doces enquanto vemos televisão. Como consequência, é provável que tenhamos peso a mais e que possamos desenvolver problemas de saúde física por causa disso.
A bulimia corresponde a um ciclo em que primeiro nos sentimos compelidos a comer muita comida (muitas vezes, em segredo) e, depois, nos tentamos livrar dos efeitos de termos comido muito.
Quando temos bulimia podemos comer compulsivamente (ou seja, grandes quantidades de uma só vez), passar fome depois de comer, vomitar o que comemos ou usar laxantes, pensar constantemente em comida, comer às escondidas ou pensarmos que temos peso a mais.
Como o peso não se altera muito e as pessoas com bulimia tentam esconder os seus comportamentos, este problema não é muito visível ou fácil de identificar. Contudo, os seus efeitos na saúde física e psicológica são graves.
Quando temos anorexia podemos sentir que aquilo que comemos, se comemos e quando comemos é a única parte da nossa vida sobre a qual temos controlo. Ganhar peso significa perder esse controlo. Não queremos aumentar de peso, mas simultaneamente também não queremos morrer à fome. Todavia, não comer e perder peso pode ser a única forma de nos sentirmos seguros, mesmo que tenhamos muita fome.
Quando temos anorexia, é comum negarmos que temos fome, ficarmos obcecados com a perda de peso, contarmos todas as calorias do que comemos, escondermos comida, fazermos exercício em excesso, usar medicamentos para reduzir o apetite ou acelerar a digestão, provocar o vómito, usar roupas largas. Acreditamos que temos peso a mais, mesmo quando toda a gente nos diz que estamos demasiado magras/os.
A anorexia pode afectar todos os aspectos da nossa vida, a forma como pensamos e como nos sentimos: podemos ter sentimentos negativos, um baixo sentido de auto-estima, medo da rejeição e uma auto-imagem distorcida.
Alguns sinais que podem indicar que um aluno tem um problema do comportamento alimentar:
- Estar sempre de dieta ou comer grandes quantidades de comida (sem alteração do peso);
- Ter medo de ganhar peso;
- Obsessão com o que come, com a comida e com o controlo do peso;
- Estar constantemente a pensar e a falar sobre comida, peso, imagem corporal;
- Contar todas as calorias do que come ou pesar tudo o que ingere;
- Comer apenas determinados alimentos (evitando os mais calóricos);
- Esconder comida ou deitá-la fora;
- Fazer exercício físico em excesso;
- Estar muito insatisfeito com o peso, o tamanho e a forma do seu corpo;
- Evitar actividades sociais que envolvam comida, nomeadamente festas e jantares;
- Evitar ir à cantina da escola ou comer sozinho;
- Usar roupa larga para disfarçar a perda de peso;
- Mostrar-se fraco, cansado, sem energia e com dificuldades de concentração;
- Mostrar-se triste e deprimido.
Ter um problema com a alimentação não é raro nem deve ser motivo de vergonha. Qualquer pessoa, de qualquer idade pode ter uma perturbação alimentar. É muito difícil resolver esses problemas sozinho/a e receber ajuda o mais cedo possível é muito importante.
Os problemas do comportamento alimentar são problemas graves e sérios, podem pôr em causa a nossa saúde física e até mesmo a nossa vida.
Existem intervenções eficazes para as perturbações alimentares, que nos permitem levar uma vida equilibrada e saudável. Leva tempo e requer paciência e esforço, mas é possível aprender a sentirmo-nos confortáveis com um peso saudável para nós, a adoptar comportamentos alimentares novos, a compreender a relação entre os nossos sentimentos e o que comemos, assim como todas as ferramentas que precisamos para nos sentirmos no controlo. É fundamental procurar ajuda , médica e psicológica.
Muitas pessoas que têm um problema do comportamento alimentar acham que não precisam de ajuda porque não estão assim tão mal ou tão magras. Independentemente do peso da pessoa ou da quantidade de comida que come, qualquer pessoa que experiencie padrões alimentares pouco saudáveis e sofra com o seu aspecto físico, deve procurar ajuda.
Se suspeita que um aluno pode ter um problema do comportamento alimentar é importante contactar o Psicólogo da Escola.
Medos e Fobias
O medo é uma das emoções humanas básicas. Funciona como um instinto – o nosso corpo responde com medo sempre que nos sentimos inseguros ou em perigo. O medo ajuda a proteger-nos: mantém-nos alerta para o perigo e prepara-nos para lidar com ele, caso seja necessário. O medo pode ser muito intenso ou apenas ligeiro, durar mais ou menos tempo, dependendo da situação e da pessoa.
O medo é saudável quando nos ajuda a ter cuidado perante uma situação que pode ser perigosa. Por exemplo, sentirmos medo de águas profundas quando não sabemos nadar bem. Mas, por vezes, o medo é desnecessário e gera mais cuidados do que os que seriam necessários para a situação (por exemplo, ter medo de falar em público).
Tendemos a evitar as situações que nos geram medo. No entanto, esse evitamento só reforça o medo, não nos ajuda a ultrapassá-lo. Podemos ultrapassar medos desnecessários se nos dermos a oportunidade de aprender sobre a situação e nos habituarmos a ela. Por exemplo, se tivermos medo de voar, podemos fazer o esforço para andar de avião e nos habituarmos às sensações desconfortáveis da descolagem ou da turbulência, arranjando estratégias para lidar com o nosso receio e insegurança. Enfrentar, gradualmente, o nosso medo pode ajudar-nos a ultrapassá-lo.
As fobias são medos irracionais. Quando temos uma fobia ficamos ansiosos e com medo perante situações e objectos muito específicos, como por exemplo, aranhas, alturas, espaços cheios de pessoas ou aviões.
O medo é um sentimento normal e positivo perante situações em que existe uma ameaça real. Por exemplo, se estivermos a ser atacados numa situação de assalto o medo vai ajudar-nos a reagir. O medo só se torna uma fobia quando nos sentimos ameaçados, de modo exagerado ou irrealista, perante uma situação ou objeto que não representa uma ameaça. Sabemos que não há razão para tanto medo, mas mesmo assim não conseguimos evitar. Por exemplo, mesmo sabendo que as aranhas não são venenosas e não nos vão morder, isso não reduz a nossa ansiedade.
Quando temos uma fobia podemos dar-nos a muito trabalho para evitar as situações ou os objetos que nos obrigariam a confrontar o nosso medo. Sempre que somos confrontados com essas situações ou objetos ficamos muito ansiosos e podemos até ter um ataque de pânico.
Existem muitos tipos de fobias, desde as mais simples – por exemplo, fobia de cobras, do escuro, de voar, de ir ao dentista ou de ver sangue – às mais complexas – por exemplo, fobia social (sentir-se ansioso na presença de outras pessoas, com medo de ser criticado ou de fazer alguma coisa embaraçosa) ou agorafobia (medo de estar em espaços abertos ou em situações das quais seja difícil escapar ou sejam embaraçosas, por exemplo, ir a um Centro Comercial, viajar de autocarro ou mesmo sair de casa).
A natureza dos medos e fobias das crianças e adolescentes vai mudando à medida que crescem e se desenvolvem e incluem o medo de estranhos, das alturas, do escuro, dos animais, de sangue, de insectos ou de serem deixados sozinhos. As crianças entre os 6 e os 12 anos têm medos que reflectem as circunstâncias reais do que lhes acontece (por exemplo, têm medo de sangue, injecções, acidentes, desastres naturais, do divórcio dos pais ou da escola).
Quando as ansiedades e os medos persistem, podem surgir problemas. Por muito que desejemos que, com o crescimento, os medos desapareçam, algumas vezes acontece o oposto, e os medos tornam-se maiores e mais intensos. A ansiedade transforma-se numa fobia ou num medo extremo e persistente.
Alguns sinais de que a criança ou adolescente pode ter medo ou fobia de alguma coisa/situação:
- Tornar-se mais dependente, impulsivo ou distraído;
- Momentos de nervosismo;
- Palmas das mãos suadas ou respiração mais rápida;
- Dores de cabeça ou de barriga;
- Mostrar medo do seu desempenho (achar sempre que vai falhar);
- Mostrar-se excessivamente tímida e envergonhada na sala de aula;
- Dificuldades de concentração.
Pode ser exaustivo e muito aborrecido sentir o medo intenso que acompanha uma fobia. Podemos ficar desiludidos e frustrados por perder oportunidades e envergonhados por ter medo de coisas com as quais as outras pessoas parecem não ter problema algum. As fobias podem ser difíceis de tolerar, quer pelas crianças e adolescentes, quer pelos adultos que as rodeiam.
Como podem os Professores ajudar os alunos a lidar com um medo ou fobia?
- Aprender e ensinar os alunos sobre o medo. O que é o medo, como funciona, que efeitos e sintomas tem.
- Ensinar estratégias de gestão da ansiedade. Mostrar aos alunos que é possível controlar a ansiedade e reduzir o nosso desconforto através, por exemplo, da nossa respiração ou de métodos de relaxamento.
- Encaminhar os alunos para o Psicólogo da Escola.
É importante lembrar que as fobias são comuns e podemos sentir que as nossas não são perturbadoras o suficiente para afectar a nossa vida diária. No entanto, se evitar o objeto/atividade/situação que despoleta a fobia interfere com a vida quotidiana da criança/adolescente ou os impede de fazer coisas que desejam (por exemplo, deixar de sair com os amigos, deixar de viajar ou evitar determinados locais), devemos procurar ajuda.
É preciso coragem e paciência para enfrentar uma fobia. Existem intervenções eficazes que nos permitem ultrapassar as fobias. Um Psicólogo pode ajudar-nos a ultrapassar uma fobia.
Depressão
A depressão é um dos problemas de saúde mental mais comuns. Pode fazer-nos sentir tristes, desesperados, inúteis e sem valor, desmotivados e exaustos. Pode afetar a nossa auto-estima, o nosso sono, o apetite e o desejo sexual, podendo interferir com as nossas atividades diárias e, às vezes, com a nossa saúde física.
Costumamos usar a expressão “estou deprimido” quando nos sentimos tristes e muito insatisfeitos com a nossa vida. Mas, normalmente, estes sentimentos passam. É normal sentirmo-nos tristes e infelizes com a perda de alguém que amamos, com uma separação ou com uma grande desilusão/frustração. Estas reacções emocionais são adequadas à situação que estamos a viver e têm uma duração limitada.
Contudo, se estes sentimentos interferirem com a nossa vida e não desaparecerem após duas semanas, ou se estiverem constantemente a voltar, podemos estar deprimidos no sentido clínico do termo. A depressão é um estado de humor duradouro que envolve tristeza, desespero e desesperança, que interfere com a nossa capacidade de aproveitar as coisas boas da vida e nos deixa sem energia e motivação para as nossas atividades do dia-a-dia.
Na sua forma mais leve, a depressão significa que nos sentimos mais “em baixo”. Não nos impede de continuar com a nossa vida normal, mas torna tudo mais difícil de fazer e faz parecer que o nosso esforço é inútil e vão. Na sua forma mais grave, a depressão pode ameaçar a nossa integridade física e fazer-nos ter vontade de desistir de viver (suicídio).
A depressão manifesta-se nos nossos sentimentos (por exemplo, sentimo-nos tristes, desesperados ou vazios; choramos facilmente e isolamo-nos dos outros), nos nossos pensamentos (por exemplo, temos dificuldade em nos concentrarmos e tomarmos decisões; culpamo-nos sobre tudo e vemos sempre o lado negativo do que acontece), nos nossos comportamentos (por exemplo, deixamos de fazer atividades que nos davam prazer, evitamos situações e não nos apetece falar) e no nosso corpo (por exemplo, temos dificuldade em dormir ou dormimos demasiado, sentimo-nos sem energia e perdemos o apetite/comemos em excesso, consumimos mais tabaco ou álcool do que é habitual).
Durante a infância e a adolescência existem muitas coisas que podem deixar as crianças e adolescentes tristes e deprimidos. Por exemplo, a morte de alguém, preocupação com o aspeto físico, preocupação com a sexualidade, sentimentos de exclusão do grupo, discussões com familiares ou amigos, mudanças na estrutura familiar, problemas com o/a namorado/a, preocupação com os resultados escolares, bullying, sentimentos de solidão e falta de compreensão por parte dos adultos.
Mas existem muitas coisas que podem influenciar a probabilidade de termos ou não uma depressão. Por exemplo, fatores biológicos (genética, química cerebral e hormonal), ambientais (estações do ano, número de horas com luz), sociais e familiares e pessoais (por exemplo, a nossa personalidade).
A depressão manifesta-se de forma diferente em cada pessoa e pode ser difícil de ver e de reconhecer, mas existem alguns sinais e sintomas comuns aos quais os Assistentes Operacionais podem estar atentos:
- Parecer triste e infeliz;
- Parecer agitado, irritável ou zangado e entrar em conflitos com os colegas;
- Parecer isolar-se e evitar os amigos;
- Parecer sentir-se sem valor ou culpado a maior parte do tempo (fazer comentários auto depreciativos como “não presto para nada”, “não faço nada bem”, “não consigo”, “a culpa foi minha”);
- Verbalizar pensamentos negativos sobre si próprio, o mundo ou o futuro;
- Sensibilidade excessiva a críticas ou a comentários percebidos como criticismo;
- Falar frequentemente na morte ou no suicídio (comentários sobre ser indiferente viver ou morrer, dar bens pessoais, falar sobre como a vida seria diferente se já não estivesse vivo, por exemplo);
- Pouca energia e motivação;
- Faltar frequentemente às aulas.
A depressão não é “fita” nem “falta de força de vontade”. A depressão não se resolve com “pensamento positivo” nem basta a pessoa “reagir”. Quando nos sentimos deprimidos, podemos achar que nada nem ninguém nos conseguirão ajudar. Mas isso não corresponde à verdade: existem tratamentos eficazes para a depressão. A maior parte das pessoas recuperam de episódios e períodos depressivos.
Por isso, se nos sentimos deprimidos devemos sempre recordar que a tristeza tem fim e que nos vamos sentir melhor, mesmo que isso às vezes seja difícil de imaginar.
Existem várias coisas que podemos fazer para nos sentirmos melhor. Por exemplo:
- Fazer atividades de que realmente gostemos (por exemplo, ouvir a nossa música preferida, ver filmes, ler livros, ir beber café com um amigo ou praticar um desporto), mesmo que não nos apeteça.
- Falar com alguém em quem confiamos. Um amigo, um familiar ou um Professor podem ouvir-nos e compreender-nos, apoiar-nos em fases menos boas e recordar-nos que ultrapassaremos essas fases, ajudar-nos a ver as coisas boas da nossa vida e fazer-nos companhia em atividades que nos dêem prazer.
- Identificar os problemas, mas não nos deixarmos consumir por eles. É bom tentarmos identificar as situações que nos deixam tristes e nos perturbam. E é bom falarmos com alguém sobre isso, partilhando os nossos sentimentos e recebendo compreensão. Mas depois de o fazermos devemos voltar a nossa atenção para a resolução dos problemas e para coisas mais positivas.
- Adotar um estilo de vida saudável: dormir bem, comer saudavelmente e fazer exercício físico pode realmente melhorar o nosso humor. Assim como evitar o uso de álcool e outras drogas.
- Expressar as nossas emoções através da escrita, do desenho, da música, da dança, etc.
Mas o mais importante é procurar ajuda. Quando os sentimentos negativos não desaparecem, não conseguimos lidar com eles ou interferem com a nossa capacidade de fazer a vida do dia-a-dia, devemos mesmo procurar ajuda. Se a depressão não for tratada, pode agravar-se.
Se suspeita que um aluno pode ter depressão é importante contactar o Psicólogo da Escola.
Ansiedade
Todas as pessoas já se sentiram ansiosas. A ansiedade é um sentimento que experimentamos de vez em quando, perante situações em que nos sentimos ameaçados ou stressados. A ansiedade pode ser descrita como uma sensação de preocupação, nervosismo, inquietação ou receio do que poderá acontecer. Por exemplo, perante o pensamento de ir fazer um exame, ir ao hospital ou a uma entrevista de emprego, é comum sentirmo-nos tensos, preocupados, nervosos, termos medo de fazer “figura de parvos” ou duvidarmos da nossa capacidade para sermos bem-sucedidos. Estas preocupações podem afectar o nosso sono, apetite e capacidade de concentração. Mas, se tudo correr bem, a ansiedade desaparece. Este tipo de ansiedade até pode ser positiva e útil, porque nos deixa mais alerta e focados.
No entanto, se os sentimentos de ansiedade nos sobrecarregarem, se o nível de ansiedade for elevado durante longos períodos de tempo, o nosso desempenho pode ser afectado e torna-se mais difícil lidar com a nossa vida quotidiana. Podemos sentir que estamos a ficar sem controlo, que vamos morrer ou enlouquecer.
A ansiedade tem efeitos no nosso corpo e na nossa mente. Do ponto de vista físico, podemos experienciar tensão muscular, dor de cabeça, batimento cardíaco acelerado, náuseas e vómitos, vontade de ir à casa de banho, dificuldade em dormir ou sensação de “borboletas no estômago”. Do ponto de vista psicológico, a ansiedade pode tornar-nos mais receosos, alerta, nervosos, irritáveis, incapazes de relaxar e de nos concentrarmos.
A ansiedade pode afectar o nosso pensamento e as nossas relações com os outros. Podemos pensar muito sobre as coisas que nos acontecem, e pensar de forma irracional, mas sem sermos capazes de parar esses pensamentos. O nosso pensamento tende a ser repetitivo e, muitas vezes, negativo. Podemos ter constantemente medo que aconteça o pior e ficar muito pessimistas. Por exemplo, se um amigo se atrasa para um jantar, podemos começar a ficar preocupados se ele terá tido um acidente ou se não quer a nossa companhia, quando afinal esse amigo pode apenas ter perdido o comboio. Podemos começar a evitar determinados locais, situações ou pessoas, passando menos tempo com os nossos amigos.
Portanto, é normal preocuparmo-nos e sentirmo-nos ansiosos de vez em quando, perante determinadas situações desconhecidas ou desafiantes. Mas quando essas preocupações começam a controlar a nossa vida, se passamos muito tempo a sentirmo-nos preocupados e nervosos, temos dificuldade em fazer a nossa vida do dia-a-dia e em sentirmo-nos felizes, podemos ter um problema de Saúde Psicológica, uma perturbação da Ansiedade.
As perturbações da Ansiedade são dos problemas de Saúde Psicológica mais comuns e afectam pessoas de todas as idades – adultos, adolescentes e crianças. As pessoas respondem à ansiedade de forma diferente, por isso, quando a ansiedade invade as suas vidas, podem experienciar ataques de pânico sem razão aparente, desenvolver uma fobia de sair de casa, isolar-se da sua família e amigos e ter pensamentos obsessivos ou comportamentos compulsivos, como estar constantemente a lavar as mãos.
Muitas vezes, as pessoas com perturbações da Ansiedade nem sabem bem o que está a causar as preocupações e os receios que têm. Os sintomas de uma perturbação da Ansiedade podem aparecer subitamente ou gradualmente. Podem deixar a pessoa a sentir-se confusa, assustada ou sobrecarregada por todas as pequenas coisas. Podem evitar falar das suas preocupações por medo de não serem compreendidas pelos outros ou serem julgadas de forma injusta (por exemplo, serem consideradas fracas ou “medricas”). Podem sentir-se muito sozinhas.
A boa notícia é que existem intervenções eficazes para reduzir e aprender a gerir a nossa ansiedade. Pedir ajuda é o primeiro passo para quebrar o ciclo de medo e insegurança. Um Psicólogo pode realmente ajudar-nos a sentir bem e aprender estratégias para gerir o stresse também.
Os Assistentes Operacionais podem estar atentos a alguns sinais de ansiedade nos alunos:
- Preocupação excessiva com pequenas coisas e dificuldade em explicar essas preocupações;
- Querer fazer tudo perfeito e cumprir todas as regras;
- Relutância em pedir ajuda (a ansiedade pode criar obstáculos que impedem o aluno de pedir ajuda);
- Grande necessidade de aprovação e reforço;
- Dificuldade em participar nas actividades;
- Evitamento dos colegas e das actividades realizadas fora da sala de aula;
- Queixas físicas recorrentes (por exemplo, dores de cabeça ou dores de barriga);
- Medo das situações de teste.
Quando estes sinais são prolongados no tempo e afectam o dia-a-dia da criança ou adolescente é importante procurar ajuda. O Psicólogo da Escola pode ajudar.
Os Assistentes Operacionais podem utilizar algumas estratégias no sentido de facilitar a vida aos alunos com ansiedade. Por exemplo:
- Identificar, em conjunto com o aluno, um “lugar seguro” onde ele se possa dirigir quando se sente ansioso, definindo regras para o uso adequado deste local.
- Ensinar estratégias e técnicas de relaxamento, que possam ser usadas na escola e em casa.
- Oferecer actividades alternativas que possam “distrair” o aluno dos sintomas físicos de ansiedade.
- Oferecer apoio na interacção entre pares, encorajando interacções em pequenos grupos.
- Elogiar os esforços para lidar com a ansiedade.
Stresse
Todos nós já nos sentimos stressados. É normal sentirmos que temos muito com que nos preocupar e demasiadas coisas para fazer, que os outros estão a exigir demasiado de nós ou que temos que lidar com situações sobre as quais não temos grande controlo.
Há situações que nos provocam stresse. Normalmente são situações que implicam mudanças ou que não controlamos. Algumas podem ser situações felizes (como casar ou ter um bebé) e outras menos positivas (como a doença de um familiar ou uma mudança de casa). Essas situações podem ser duradouras, como o desemprego, a pobreza, os problemas nas relações próximas ou ter de cuidar de um familiar doente. Mas também podem ser passageiras, como uma tempestade, ter um teste no dia seguinte, haver muito trânsito, estarmos constipados ou atrasados para um compromisso.
Há o stresse do dia-a-dia, provocado pelo facto de termos de gerir inúmeras tarefas durante a semana, por determinados acontecimentos que nos deixam nervosos (por exemplo, uma reunião com o chefe) ou pelas pessoas com quem convivemos (pequenos desentendimentos com colegas de trabalho ou pessoas próximas). Mas também há o stresse provocado por situações difíceis da nossa vida. Estas situações (um divórcio, mudar de cidade, acabar um relacionamento, a morte de alguém, conflitos familiares) não acontecem todos os dias, mas são muito stressantes e demoram mais tempo a resolver.
O emprego também traz um conjunto de pressões e ansiedades, constituindo uma fonte de stresse. O stresse originado pelo trabalho explica mais de metade das faltas ao trabalho e é o segundo problema de saúde relacionado com o trabalho mais reportado na Europa, afectando quase um em cada três trabalhadores.
O stresse no trabalho pode ser provocado por diversas situações. Por exemplo, ter demasiadas coisas para fazer em pouco tempo, ter um trabalho muito exigente ou demasiado fácil, a pressão dos prazos para cumprir, os turnos, a falta de controlo sobre o que fazemos e como fazemos, as más condições de trabalho (muito barulho, pouca luz, equipamento ou mobiliário desadequados), falta de apoio por parte da gestão, conflitos com os superiores hierárquicos, poucas expectativas de crescimento e de aumento do salário, medo de ser despedido, más relações com os colegas de trabalho, falta de equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar.
Há quem pense que os adolescentes não se sentem stressados porque não têm as responsabilidades dos adultos – trabalhar e apoiar a família – mas isso não é verdade. Os adolescentes podem sentir-se stressados pela sua interacção com os pais (“não me desiludas”, “despacha-te”, “estuda e tem boas notas”, “não te metas em sarilhos”, “devias fazer mais amigos”), os amigos (“experimenta isto”, “prova que não és parvo”, “não andes com aqueles”, “não vistas isso”) ou mesmo consigo próprios (“preciso de perder peso”, “já devia ter músculos”, “tenho de vestir a roupa certa”, “tenho de ter boas notas este ano”, “tenho de conseguir mostrar aos meus pais que já não sou uma criancinha”). Para além disso, descobrir como tornar-se independente, pensar no futuro, ser pressionado pelos amigos para beber ou fumar, preocupar-se com as mudanças do corpo, lidar com novos sentimentos sexuais e outros desafios da adolescência pode ser, por si só, bastante stressante.
Quando estamos stressados podemos ter diferentes tipos de reacções, nomeadamente físicas: dor de cabeça, dores musculares, cansaço, dificuldade em dormir, pressão arterial alta, fome ou falta de apetite, indigestão, desmaios, dor no peito. Podemos sentir-nos irritados, agressivos, cansados, deprimidos, com medo de falhar, com receio do futuro, sem interesse pelos outros e pela nossa vida e perdermos o nosso sentido de humor. Pode ser mais difícil para nós tomarmos decisões e concentrarmo-nos.
Mas nem sempre o stresse é mau, até pode ter um lado positivo. Por exemplo, quando temos um trabalho para entregar o stresse pode manter-nos alerta e focados. Quanto mais treinarmos lidar com os desafios e o stresse do dia-a-dia, mais preparados estaremos para lidar com situações mais difíceis e complexas. Mas só é positivo quando dura pouco tempo e depois relaxamos.
Embora o stresse não seja uma doença, quando nos sentirmos muito stressados durante longos períodos de tempo, podemos desenvolver problemas de saúde psicológica como a depressão ou a ansiedade. Nestas situações sentimo-nos constantemente com medo e em estado de alerta, perdemos o nosso equilíbrio emocional e sentimo-nos incapazes de controlar a nossa vida. Quando a nossa vida se transforma e não conseguimos lidar com os nossos problemas, falar com um Psicólogo pode ajudar-nos a pensar e encontrar uma solução.
Para evitar ficarmos demasiado stressados ao lidar com as pressões e os problemas do nosso dia-a-dia podemos utilizar várias estratégias eficazes (e ensinar os alunos a usá-las). Por exemplo,
- Eliminar algumas actividades do horário. Quando nos estamos a sentir sobrecarregados, podemos considerar eliminar uma ou duas actividades do horário, deixando apenas aquelas que são realmente importantes para nós ou inadiáveis.
- Planear. Para diminuir o stresse com as exigências e tarefas do dia-a-dia é importante planear, sabendo quais e quando são as nossas obrigações e depois, claro, cumprindo esse plano. Planear só serve se depois formos capazes de cumprir o plano.
- Ser realista e pedir ajuda. Ninguém é perfeito nem sabe tudo. Não vale colocar pressão desnecessária sobre nós próprios. Quando sentimos que precisamos de ajuda – seja na educação dos filhos, nas tarefas domésticas ou no trabalho – mais vale pedi-la. Falar sobre as coisas que nos stressam com pessoas em quem confiamos pode ser muito útil para diminuir o stresse.
- Não ignorar os problemas. Aprender a gerir o stresse também significa desenvolver competências que nos permitam lidar com os problemas, em vez de evitá-los. É importante também distinguir aqueles problemas realmente importantes, que devemos resolver e com os quais nos devemos preocupar, e aqueles que devemos deixar de lado, que afinal não são assim tão importantes.
- Dormir e comer bem, fazer exercício. Manter o nosso corpo em forma, com uma boa noite de sono, alimentação saudável e exercício físico pode contribuir bastante para a forma como lidamos com as situações stressantes.
- Arranjar tempo para relaxar. Incluir no horário diário actividades das quais gostamos – ler um livro, ver um filme, brincar com os nossos animais de estimação, tocar um instrumento, aproveitar desportos ao ar livre ou apenas estar com amigos.
Os Assistentes Operacionais podem estar atentos a alguns sinais de stresse nos alunos: aumento do nervosismo ou ansiedade, dificuldade em “desligar” daquilo que os preocupa, aumento da irritabilidade. Quando estes sinais são prolongados no tempo e afectam o dia-a-dia da criança ou adolescente é importante procurar ajuda. O Psicólogo da Escola pode ajudar.
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