Recomendações para Pais e Cuidadores
Nos últimos meses, a pandemia COVID-19 obrigou a alterações nos contextos educativos e nos processos de ensino-aprendizagem, gerando novas interacções entre pais/cuidadores, professores e a escola. Na verdade, tendo em conta a forma como, desde Março de 2020, esta pandemia provocou mudanças nas dinâmicas relacionais e de aprendizagem, podemos considerar que toda a comunidade educativa (alunos, pais e cuidadores, profissionais) está a vivenciar um processo de transição, enfrentando desafios excepcionais na finalização do ano lectivo de 2019/2020 e na preparação do ano lectivo de 2020/2021.
A acrescentar a este processo de transição extraordinária, pela qual todos terão de passar (o regresso ao contexto escolar terá, obrigatoriamente, mudanças e diferenças face ao cenário pré-pandemia), mantêm-se e acentuam-se os desafios das transições escolares normativas – as que já fazem parte habitual do percurso escolar (ex. as transições entre anos escolares e as transições para um novo ciclo de estudos).
Para as crianças e jovens o regresso à escola poderá ser mais desafiante, exigindo medidas específicas de suporte, que promovam uma reintegração escolar presencial (ou à distância) que assegure o bem-estar e a saúde física e psicológica.
Mas também os pais e cuidadores podem sentir ambiguidade e receios face ao regresso à escola das crianças e jovens. É natural que possam experienciar uma variedade de sentimentos (às vezes aparentemente opostos, tais como alívio e preocupação, culpa e confiança).
A reabertura das escolas implica mudanças nos procedimentos anteriores, alterações nos hábitos sociais e nas emoções de todos os envolvidos. Neste sentido, o reingresso ou a transição escolar, devem basear-se na premissa de que a escola é um espaço seguro, cuidador e de apoio ao desenvolvimento das crianças e jovens. Para além de sugerirmos a consulta do documento “Desconfinamento: Regressar a (algumas) Rotinas Habituais – Recomendações para Pais e Professores”, deixamos algumas recomendações sobre estes processos de transição.
1. Recomendações Gerais para Pais e Cuidadores
Relativamente aos Agentes Educativos
- Restabeleça o contacto com os agentes educativos da escola, dando e recebendo feedback sobre possíveis alterações emocionais e comportamentais da criança/jovem (ex. ansiedade ou angústia quando se afasta; comportamento agitado; alterações do humor; agressividade; irritabilidade).
- Manifeste e partilhe as suas preocupações com os agentes educativos, bem como se o seu filho está a manifestar medo, tristeza, frustração ou angústia perante o regresso.
- Informe o Educador ou Professor se houve alguma situação específica que tenha causado impactono meio social mais próximo (família e amigos). Por exemplo, se tiver havido uma morte de uma pessoa próxima ou a não realização da residência alternada, como habitual.
- Confie nos agentes educativos. As orientações dadas para o regresso à escola constituem um desafio para os Educadores e Professores, que procurarão cumprir todas as regras de segurança, mas também garantir o bem-estar das crianças e jovens.
Relativamente às Crianças e Jovens
- Reforce a tolerância e a paciência. As crianças tiveram alterações nas rotinas, nos limites impostos, no convívio familiar, nos hábitos e nas relações estabelecidas. É necessário respeitar o seu ritmo de readaptação.
- Opte por estratégias de contenção (tom de voz calmo, atitude tranquila). Dê espaço, sem insistência, mas com vigilância, para ajudar a criança a expressar-se e auto-regular-se.
- Vigie as reacções das crianças pequenas às mudanças que ocorrerão no contexto escolar, nomeadamente de profissional responsável, de sala/instituição, de colegas ou contexto social e da forma de se relacionarem. Adicionalmente, existirão roupas e equipamentos de protecção às quais não estão habituados. Por isso, planeie uma integração gradual e um momento especial para atribuir um significado à reentrada na escola, suavizando o impacto das emoções negativas que também lhe possam estar associadas.
- Envolva as crianças e jovens nas tomadas de decisão e organização do regresso à escola, fomentando uma sensação de segurança e confiança.
- Procure informar-se sobre programas e actividades dedicadas às crianças e jovens que vão transitar de ciclo de estudo (ex. possibilidade de realizar uma visita virtual aos novos espaços escolares).
- Incentive as crianças e os jovens a expressarem as suas emoções, disponibilizando-se para o diálogo e validando o que sentem relativamente à reintegração ou começo de ano lectivo. Mostre-se disponível para conversar, para orientar e reflectir em conjunto sobre os problemas e possíveis soluções.
- Sempre que considerar necessário, peça ajuda: recorra ao apoio do Psicólogo com intervenção em contexto escolar para melhor gerir e monitorizar as emoções, comportamentos e atitudes das crianças e jovens.
Sugere-se ainda a consulta da informação para Pais disponível no site EscolaSaudavelmente – Ajudar o Meu Filho nas Transições Escolares: http://escolasaudavelmente.pt/pais/sucesso-escolar/ajudar-o-meu-filho-nas-transicoes-escolares.
2. Recomendações Específicas sobre a Transição do Ensino Pré-Escolar para o 1º Ciclo do Ensino Básico
Se o seu filho está prestes a ingressar no 1º ciclo, estará a viver a primeira transição entre ciclos de estudo. Será de considerar que está a vivenciar alguns desafios que fazem parte desta mudança, tais como a passagem para um ambiente de aprendizagem mais formal, em que há menos tempo de brincadeira, que envolve a mudança de espaço (ou de escola), de figuras de referência (educadores e auxiliares para um professor novo e novos auxiliares), e de colegas. Além disso, estará a lidar com desafios acrescidos devido à pandemia, tais como uma possível ansiedade de separação, assim como a transição de uma fase em que as suas rotinas se alteraram.
- Antecipe, com a criança, esta mudança. Oiça as suas questões, procure dar-lhes resposta. Transmita-lhe confiança numa nova etapa que se inicia e ajude-a a identificar coisas boas que se seguem e a recordar-se de outras mudanças que já viveu e que correram bem.
- Articule com a escola actual para perceber que iniciativas estão a ser contempladas para as crianças em transição (ex., despedidas à distância, visitas virtuais à nova escola, etc.). Na ausência de actividades planeadas, procure fazê-las por iniciativa própria ou em conjunto com outros pais/filhos em situação semelhante.
3. Recomendações Específicas sobre a Transição do 1º Ciclo para o 2º Ciclo do Ensino Básico
Se o seu filho está prestes a ingressar no 2º ciclo, tenha presente que poderá estar a vivenciar alguns desafios, tais como a mudança de escola e de tipo de espaço (deixa de ter apenas uma sala de aulas para ter de circular com autonomia entre diferentes salas/pavilhões, onde contacta com mais alunos de várias idades), a alteração de um regime de apenas um professor que lecciona todas as disciplinas para vários professores que leccionam muitas disciplinas (alguma delas novas) diferentes, a mudança de turma para uma com menos (ou nenhuns) colegas/amigos, e a maior exigência pela sua autonomia e auto-regulação na aprendizagem. Para além de todos estes desafios, acrescem os que a pandemia motiva, tais como o afastamento dos pais, a separação sem despedida de um “espaço seguro” (a antiga escola, professor, sala de aula, rotinas do 1º ciclo) e a separação sem a despedida habitual dos colegas.
- Antecipe, com a criança, esta mudança. Oiça as suas questões, procure dar-lhes resposta. Transmita-lhe confiança numa nova etapa que se inicia e ajude-a a identificar coisas boas que se seguem e a recordar-se de outras mudanças que já viveu e que correram bem.
- Articule com a escola actual para perceber que iniciativas estão a ser contempladas para as crianças em transição (ex., despedidas à distância, visitas virtuais à nova escola, etc.). Na ausência de actividades planeadas, procure fazê-las por iniciativa própria ou em conjunto com outros pais/cuidadores/filhos em situação semelhante.
3. Recomendações Específicas sobre a Transição do 3º ciclo do Ensino Básico para o Ensino Secundário
Se o seu educando está a concluir o 3º ciclo, tenha presente que está a vivenciar um conjunto de desafios que fazem parte desta transição, tais como uma possível mudança de escola, a despedida de alguns (ou todos) os colegas (que na adolescência têm particular importância na vida do jovem), o confronto com um tipo de ensino que apela a cada vez mais autonomia e auto-regulação das aprendizagens e que requer maior nível de abstração (e portanto mais exigente e difícil), e um ciclo de estudos em que há uma maior pressão relativamente às classificações escolares (para acesso ao Ensino Superior).
Além disso, para esta transição, é necessário contemplar diversas possibilidades de escolha para início do percurso no Ensino Secundário (ex., Cursos Científico-Humanísticos, Ensino Profissional ou Cursos Artístico-Especializados). Assegure-se que a decisão é tomada e é feita com base no autoconhecimento e na exploração de alternativas. Articule com o Psicólogo da escola/agrupamento escolar caso considere necessária uma intervenção vocacional. Acompanhe esta decisão e procure verificar se o seu educando tem conhecimento das possibilidades, bem como das escolas que disponibilizam as suas escolhas e informe-se sobre o necessário para proceder às devidas inscrições.
Os desafios habituais desta transição serão mais complexos devido aos efeitos da pandemia, pelo que os jovens estarão confrontados com um cenário em que se podem sentir privados de alguns rituais de transição (de que são exemplo as viagens e bailes de finalistas), de uma despedida presencial dos seus colegas e professores, bem como de uma dificuldade em “desconfinar” num ambiente que lhes é estranho e cheio de incerteza.
- Antecipe, com o jovem, esta mudança. Oiça as suas questões, procure dar-lhes resposta. Transmita-lhe confiança numa nova etapa que se inicia e ajude-o a identificar coisas boas que se seguem e a recordar-se de outras mudanças que já viveu e que correram bem.
- Articule com a escola actual para perceber que iniciativas estão a ser contempladas para os jovens em transição. Na ausência de actividades planeadas, procure fazê-las por iniciativa própria ou em conjunto com outros pais/filhos em situação semelhante.
- Apoie na promoção do contacto (à distância ou presencialmente com precauções) do jovem com os seus colegas/amigos, uma vez que estes são de enorme importância na adolescência. Incentive a que mantenham o contacto durante e após a transição e ajude-o a perceber que é possível manter amizades mesmo sem uma convivência diária.
- Mostre-se compreensivo em relação à decisão vocacional, tendo presente que a decisão tomada não é irreversível e transmitindo confiança em relação ao futuro. Ajude a compreender que nenhum percurso é isento de dificuldades, mas que as recompensas de planear o futuro são várias (a satisfação no trabalho, a realização pessoal, o contributo que dá à sua comunidade/ao mundo, etc.)
4. Recomendações Específicas sobre a Transição Escolar no final do Ensino Secundário (“Vida Pós-Escolar”)
Transição para o Ensino Superior
Esta é uma transição que traz desafios desde a sua preparação, começando com alguma pressão sentida pelo jovem no que se refere aos seus resultados escolares e o impacto que isso tem na “média” que servirá para a candidatura ao Ensino Superior. Acrescendo a isso, a preparação para os exames nacionais e alguma ansiedade face a esse desempenho, fazem habitualmente parte desta mudança.
Esteja atento às dimensões emocionais reveladas pelos jovens, tais como:
- Ansiedade perante os exames
- Ansiedade por falta de convívio com os grupos de pares
- Ansiedade perante a própria pandemia
- Ansiedade perante a alteração das regras para exames
- Situações de vulnerabilidade
A decisão vocacional sobre a ordenação de cursos para a candidatura ao Ensino Superior também pode ser um desafio desta etapa, pois requer autoconhecimento e a exploração consciente das alternativas. O papel do Psicólogo neste processo costuma ser determinante para que a decisão seja tomada e vivida com maior tranquilidade.
Após a colocação, segue-se uma integração num ambiente totalmente novo e em que todos são mais “anónimos”, onde frequentemente inicialmente ninguém conhece ninguém, e no qual o jovem encontra um novo nível de exigência, de muito menor acompanhamento por parte dos professores. Por vezes esta mudança obriga também a uma mudança de cidade para estudar, podendo isso ou implicar uma viagem mais ou menos longa de transportes públicos, ou a mudança de casa (podendo envolver o “morar sozinho”).
Para além destes desafios, é natural que se façam sentir dificuldades que advêm da situação de pandemia, pelo que os jovens estarão confrontados com um cenário em que se podem sentir privados de alguns rituais de transição (de que são exemplo as viagens e bailes de finalistas), de uma despedida presencial dos seus colegas e professores, bem como de uma dificuldade em “desconfinar” num ambiente que lhes é estranho e cheio de incerteza.
Transição para o Mercado de Trabalho
Se o seu filho está a terminar a escolaridade obrigatória e não vai candidatar-se ao ensino superior, poderá já não regressar ao espaço escolar em regime presencial. Desta forma, procure assegurar que não se efectua uma transição abrupta:
- Verifique se está bem e seguro com a sua decisão (deixando claro que não é uma decisão irreversível);
- Verifique se necessita de um último aconselhamento com o Psicólogo escolar, ainda antes do ano lectivo terminar;
- Colabore com o Psicólogo da escola, articulando as estratégias a serem delineadas.
Transição para a Vida Pós-Escolar
Se o seu filho usufrui de um Plano Individual de Transição (PIT), poderá estar perante diferentes cenários. Poderá atingir a maioridade ou finalizar o ensino secundário, e desta forma também poderá já não regressar ao sistema presencial. Mantenha contacto e coopere com as EMAEI (Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclsusiva), bem como com os serviços que auxiliam esta transição (ex. psicólogo da escola ou do CRI – Centro de Recursos para a Inclusão):
- Mantenha o contacto com a escola, nomeadamente com o diretor de turma e/ou com o professor de educação especial e partilhe qual a decisão que o seu filho irá tomar com a finalização da escolaridade obrigatória;
- Se a escolha for ingressar num curso profissional, ajude-o a efetuar a inscrição no IEFP e centros de formação profissional, articulando com o psicólogo em contexto escolar ou o psicólogo do CRI;
- Se a escolha/necessidade for o ingresso no centro de actividades ocupacionais, procure junto da escola o contacto de instituições com este recurso;
- Se a escolha for a transição para a vida activa, através do mercado de trabalho, procure articular com a comunidade (e. g. autarquia, centros comunitários) para facilitar a integração do seu filho, tendo em conta as suas dificuldades e potencialidades.
- Ajude-o a encontrar estratégias para se tranquilizar, relaxar e encontrar actividades e momentos de prazer.
- Valorize cada sentimento e apoie na procura de estratégias para a gestão emocional e, se encontrar muitas dificuldades e se se prolongar no tempo, procure a ajuda especializada através de um psicólogo.
O contributo dos pais e cuidadores para um regresso à escola saudável e para transições escolares bem-sucedidas é fundamental.
Com o Apoio de:
Vanessa Neves (CP: 11765)
Nathalie Marques (CP: 14734)
Partilhe