Parcerias Escola-Família

Os Pais são indubitavelmente os que mais e melhor conhecem os seus filhos, bem como aqueles que, pelo poder implícito da relação de vinculação significativa, mais influência têm no seu desenvolvimento e na facilitação das mudanças desejadas ou necessárias.

As Famílias devem ser encaradas como experts e como um recurso, na medida em que providenciam uma visão compreensiva da história de vida dos seus filhos, oferecem novas perspetivas sobre eles, e são também aliados fundamentais nos processos de intervenção. Aceder à perceção dos pais acerca do bem-estar psicológico dos seus filhos é um input importante na compreensão dos seus comportamentos e emoções.

Também o Psicólogo Escolar se deve assumir como um expert e um recurso da comunidade educativa, que toma em consideração as vivências de todos os aspetos da vida dos alunos, nos contextos escolar e familiar, através do desenvolvimento de estratégias e programas concretos de envolvimento das famílias, com vista a alcançar resultados positivos, não só ao nível do desempenho académico mas do desenvolvimento integral das crianças e jovens.

Torna-se fundamental que o Psicólogo explore formas diferentes e alternativas de manter o contacto das Famílias com a Escola e da Escola com as Famílias, sobretudo quando estas estão relutantes ou tiveram experiências passadas negativas ou de menor participação.

O que nos diz a investigação?

  • O envolvimento Família/Escola promove um clima global escolar positivo.
  • Os Psicólogos escolares facilitam o estabelecimento de laços fortes entre os profissionais da escola e as famílias.
  • Ter as famílias mais envolvidas com a Escola gera mais cooperação entre alunos.
  • As crianças cujos pais estão mais envolvidos na sua educação apresentam melhores níveis de assiduidade escolar, de concretização dos TPC’s e das tarefas escolares e de desempenho escolar.
  • As Famílias mais envolvidas facilitam o funcionamento cognitivo e socioemocional das crianças, bem como o aumento da sua autoestima, melhorias no comportamento e atitudes mais positivas face à escola.
  • Os adolescentes estão menos predispostos ao envolvimento com comportamentos de risco quando percebem uma forte ligação entre a sua família e a Escola.
  • A cooperação Escola/Família prevê a generalização das estratégias de intervenção por parte dos jovens e das famílias.
  • Por comparação com as intervenções individuais, as intervenções que envolvem o apoio das famílias estão associadas a uma redução dos problemas de comportamento das crianças.
  • As famílias envolvidas no desenvolvimento de planos de intervenção reportam níveis mais elevados de autoeficácia, o que por sua vez se relaciona com um maior investimento no processo de intervenção, reduzindo o tempo despendido no mesmo.
  • As famílias mais envolvidas reportam níveis mais elevados de autoestima, o que se traduz numa modelagem mais positiva para os seus filhos.
  • Procurar feedback junto das famílias faz com que estas sintam uma melhor resposta às necessidades dos seus filhos.
  • Integrar o feedback das famílias no processo de intervenção cria um sentido de responsabilidade partilhada acerca do bem-estar dos seus filhos e aumenta a probabilidade de concretização dos objetivos de intervenção.

Através da consultadoria colaborativa e do aconselhamento psicológico e psicopedagógico com Pais, o Psicólogo escolar ajuda a promover o bem-estar psicológico, o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos, bem como um clima escolar positivo. Muitas vezes assume um papel de liderança na promoção da colaboração com a comunidade e na organização e coordenação dos diferentes recursos desta.

Alguns exemplos de como os Psicólogos, em colaboração com os restantes profissionais da Escola, podem favorecer o envolvimento da Família e da Comunidade:

  • Desenho, implementação e avaliação de programas e atividades de apoio às Famílias, tais como a formação para Pais e treino de competências parentais, por exemplo nas áreas de desenvolvimento socioemocional, gestão do comportamento e disciplina e competências de estudo.
  • Apoio na compreensão das regras e procedimentos da Escola, e apoio no âmbito das reuniões relativas a necessidades específicas ou de educação especial e das reuniões Pais/Professores.
  • Participação em reuniões de Pais, facilitação de interações positivas entre os Pais e os diferentes membros não docentes, apoiando na resolução de problemas e de conflitos.
  • Colaboração efetiva com Pais e organismos da comunidade, para facilitar a comunicação com a Escola, usando como recurso o conhecimento e os saberes técnicos da Psicologia, do Desenvolvimento e da Educação.
  • Desenvolvimento de esforços integrados para responder às diferentes necessidades da comunidade escolar.

Os Psicólogos, em conjunto com os Professores e outros profissionais da Escola, cultivam o envolvimento das famílias de formas muito diversas, assim como as famílias se envolvem em diferentes graus e com níveis de eficácia distintos.

As parcerias Escola/Família mais bem-sucedidas são normalmente as mais flexíveis e diversificadas nas suas estratégias, as que refletem e integram as necessidades e as características da respetiva comunidade escolar.

A natureza destas parcerias modifica ao longo do espectro do desenvolvimento e do nível de escolaridade da criança ou jovem mas os níveis apropriados e efetivos de comunicação e de envolvimento continuam a ser os fatores críticos fundamentais no progresso escolar e na saúde e bem-estar psicológico dos alunos.

Na realidade, a literatura científica e os estudos empíricos tendem a encontrar 3 pontos comuns a este envolvimento e parceria Escola/Família:

  1. As estratégias de parceria Escola-Família, que surgem como significativamente relevantes na promoção da aprendizagem e do sucesso escolar das crianças e jovens.
  2. A importância da comunicação Pais/Professores.
  3. As perceções dos Pais acerca do seu envolvimento com a Escola e dos esforços por esta evidenciados nesse sentido, influenciam o nível de participação dos Pais na educação dos seus filhos.

Por seu turno, nas diferentes iniciativas de desenvolvimento de programas de envolvimento Família/Escola, o Psicólogo escolar deve prever 3 tipos de atividades e estratégias determinantes ao sucesso desta parceria:

  1. Comunicação Escola/Família, numa dupla via: o Psicólogo escolar deve usar de flexibilidade, de criatividade e de sensibilidade para perceber o que funciona para diferentes famílias (por exemplo, algumas famílias podem preferir comunicar via eletrónica, mas outras podem não ter acesso a computador).
  1. Envolvimento da Família em casa: o Psicólogo escolar pode apoiar as famílias a organizar o respetivo contexto e ambiente familiar, e a desenvolver estratégias e atividades no sentido de reforçar e estender ao contexto familiar a aprendizagem dos alunos (por exemplo, comunicação com os filhos sobre a escola; organização de materiais, recursos e estratégias cognitivamente estimulantes; envolvimento ativo na leitura; orientação dos TPC’s ou de outras atividades de aprendizagem interativas).
  1. Envolvimento da Família na Escola: o Psicólogo escolar pode encorajar as famílias a participar na sala de aula e em atividades e eventos da Escola, como voluntários, participantes ou membros de comissões ou outras representações nos órgãos de gestão e de liderança.

Os programas de promoção do desenvolvimento socioemocional são um exemplo do reforço da complementaridade de papéis educadores/famílias e aumentam as oportunidades de aprendizagem. O conjunto de competências sociais, emocionais ou académicas dos alunos são melhor estimulados se existirem redes de apoio e de reforço mútuos, pois as competências socioemocionais desenvolvem-se de cada vez que a criança interage com os seus pais, pares, professores ou outros.

Por sua vez, as ações do Psicólogo escolar para promover a literacia e as competências socioemocionais de Pais e Professores empodera-os no sentido de modelarem de forma efetiva as competências que as crianças necessitam de aprender.

O clima de aprendizagem e o clima emocional dos contextos familiar e escolar melhoram então substancialmente à medida que forem promovidas e desenvolvidas as diferentes competências socioemocionais.

Se as estratégias usadas por Pais e Professores forem semelhantes, a transição Família/Escola é facilitada, bem como a consistência e a sistematicidade no que respeita aos comportamentos esperados, melhorando simultaneamente a relação entre as crianças e os jovens e os seus Pais, Professores, irmãos e pares.

Em suma, os esforços efetivos para a promoção da comunicação e do envolvimento Família/Escola assentam em 4 ingredientes chave:

  1. Comunicação centrada na criança: comunicação que tende a envolver os Pais de forma personalizada e individualizada, com recurso a práticas educativas diferenciadas.
  1. Comunicação construtiva: comunicação assente em informação significativa e útil que disponibiliza às Famílias sugestões e orientações práticas.
  1. Guidelines e estratégias claras e concretas: benéficas para as famílias no apoio à aprendizagem dos seus filhos.
  1. Comunicação e feedback contínuos: mantém as famílias informadas e sincronizadas com as práticas e políticas da sala de aula, com o desempenho e com as competências desenvolvidas pelos seus filhos.