Suicídio
Ser adolescente não é fácil. São muitas pressões sociais, escolares e pessoais. E para os adolescentes que têm de lidar com outros problemas (como viver num ambiente violento ou abusivo) a vida pode ser ainda mais difícil. Alguns adolescentes preocupam-se com a sua sexualidade e relações, receiam que os seus sentimentos ou atracções não sejam normais ou questionam-se se serão algum dia amados e aceites. Outros lutam com problemas da sua imagem corporal ou comportamento alimentar. Outros ainda têm problemas de aprendizagem ou atenção que criam obstáculos ao sucesso escolar, podem sentir-se desapontados consigo próprios ou sentir que são uma desilusão para os outros.
Todos estes problemas podem ser muito complicados de gerir e fazem os adolescentes sentirem-se sem apoio e sem esperança de os conseguirem resolver. O suicídio é a segunda causa de morte entre os adolescentes, segundo a OMS. Há ainda estudos que indicam que, por cada suicídio, há outras 25 tentativas sem consumação.
Quando vivemos muitas perdas, nos sentimos um fracasso, sobrecarregados por problemas pessoais ou familiares, ou mesmo sem sabermos bem porquê, podemos ficar presos na nossa dor e acreditar que não existem soluções para os nossos problemas. Sentimo-nos impotentes para mudar a nossa vida e a ideia de morrer, de suicídio, pode dar-nos a ilusão de algum conforto e controlo sobre a situação.
Os pensamentos e sentimentos suicidas também podem ser aterrorizantes. Quando já não conseguimos ver nenhum propósito ou sentido em continuarmos a viver, os nossos sentimentos podem parecer insuportáveis. Podemos odiar-nos e acreditar que somos inúteis, que não fazemos falta a ninguém e que ninguém gosta e se importa realmente connosco. Podemos sentir raiva, vergonha e culpa.
Para alguns adolescentes, o motivo que os levou a tentar suicidar-se foi tentar escapar de uma situação que lhes parecia impossível serem capazes de resolver ou para ter algum alívio de pensamentos e sentimentos muito negativos e dolorosos. Outros procuravam escapar de sentimentos de rejeição ou perda, sentiam-se zangados ou culpados por alguma coisa, indesejados ou um fardo para outras pessoas. Na verdade, não queriam tanto assim morrer, mas sim escapar daquilo que se estava a passar na sua vida naquele momento. E, nessa altura, morrer parecia-lhes a única saída.
Sabemos que entre os adolescentes que se suicidam ou pensam suicidar-se existem alguns aspetos em comum: estão em grande sofrimento psicológico e perderam a esperança; a morte parece-lhes a única forma de escapar à dor que sentem; sentem-se sozinhos, sem qualquer valor como pessoas, apenas um fardo para os outros; querem desesperadamente ser ajudados, mas têm demasiado receio de falar com alguém e não serem compreendidos; querem, de alguma forma, “ficar na história” ou “deixar a sua marca” e vêem no suicídio a única forma de o fazerem.
Muitas vezes isolamo-nos dos outros e é difícil partilhar com a família e os amigos o quão mal nos sentimos. Às vezes nem para nós próprios é assim tão claro que queremos morrer. Podemos sentir-nos indiferentes, confusos ou ter a esperança que alguém nos compreenda e nos ajude. Nem sempre pensar sobre suicídio significa que queremos realmente morrer. Muitas pessoas pensam sobre suicídio e a maior parte delas não leva esses pensamentos até ao fim e se mata.
Muitas pessoas experienciam vontade de se suicidar e pensamentos suicidas como parte de um problema de Saúde Psicológica ou quando experienciam problemas de saúde física graves e dolorosos. Algumas vezes o suicídio é planeado, mas outras vezes as tentativas de suicídio acontecem por impulso, num momento de desespero.
Existem alguns sinais que podem indicar que alguém está a pensar suicidar-se:
- Ameaçar directa (por exemplo, “vou matar-me”) ou indirectamente (por exemplo, “quem me dera adormecer e nunca mais acordar”) suicidar-se;
- Planos e cartas de despedida (incluindo publicações online);
- Falar sobre suicídio ou sobre a morte;
- Escrever canções, poemas ou cartas sobre a morte;
- Falar sobre “ir embora”, “não estar mais aqui”, “desaparecer”, “não vou ser um problema para vocês durante muito mais tempo”;
- Referir-se a coisas de que não vai precisar ou dar objectos pessoais;
- Falar sobre sentir-se desesperado ou culpado;
- Afastar-se de amigos e familiares e perder o interesse em sair de casa;
- Perder o interesse pelas actividades ou passatempos favoritos;
- Ter dificuldade em concentrar-se e em pensar com clareza;
- Perder interesse na escola ou actividades desportivas;
- Irritabilidade, tristeza ou ansiedade;
- Alterações nos hábitos alimentares e de sono;
- Manifestar comportamentos autodestrutivos (beber álcool em excesso, consumir drogas, auto mutilar-se…);
- Manifestar-se subitamente alegre após um período de tristeza.
Embora muitos adolescentes que tentam suicidar-se tenham manifestado alguns sinais, outros não deram qualquer tipo de “pista” de que estavam a pensar suicidar-se.
É importante que os Pais estejam atentos e possam providenciar a ajuda necessária. Alguns adultos consideram que os adolescentes que falam em suicidar-se estão apenas a querer “chamar a atenção”. No entanto, é importante não ignorar estas afirmações e saber que quando os adolesces são ignorados quando pedem atenção/ajuda, isso pode aumentar a probabilidade de, de facto, colocarem em risco a própria vida.
Como podem os Pais ajudar um filho com ideação suicida?
- Criar tempo para ouvir os adolescentes e manter as linhas de comunicação abertas. Partilhar e falar sobre o seu dia-a-dia, interesses, opiniões e sentimentos, garantindo-lhe que estamos realmente interessados em ouvi-los. É importante fazer um esforço para passar mais tempo a dialogar, aproveitando as alturas em que estão mais disponíveis para isso (por exemplo, uma viagem de carro). Encoraje os adolescentes a partilhar consigo qualquer situação que os faça sentir desconfortáveis.
- Falar com os adolescentes sobre Saúde Psicológica e sobre Suicídio. Falar sobre este tipo de assuntos é um desafio que implica destruir mitos e eliminar a falta de informação. Ao contrário do que se possa pensar falar sobre suicídio não aumenta o risco de automutilação ou suicídio nem “semeia” essa ideia na cabeça dos adolescentes. Pelo contrário, cria uma oportunidade para oferecer ajuda.
- Oferecer encorajamento e apoio. Faça o adolescente perceber que se preocupa com ele, que o irá ajudar no que puder e valide os seus sentimentos. Saber que os Pais compreendem que se sente triste ou zangado e que estão disponíveis para conversar (por muito custoso que isso seja) quando o que se sente é tão doloroso que se torna difícil de aguentar, pode ajudar muito.
- Não ignorar os problemas, não desvalorizar os sinais de alerta nem descartar uma ameaça como sendo “apenas” uma “chamada de atenção”. Se está preocupado, confie nos seus instintos e não espere apenas que a situação melhore.
- Conhecer os fatores de risco: negligência e abandono familiar; violência doméstica; exposição a ambientes de stresse crónico; abuso sexual; história familiar de suicídio; problemas de Saúde Psicológica (como a depressão ou a ansiedade); perda recente (morte, divórcio, separação, término de relação romântica); comportamentos de risco (abuso de álcool ou drogas, condução perigosa); bullying ou cyberbullying; sentimentos de desespero e desesperança; baixa auto-estima.
- Promover os fatores de protecção e prevenir: dedicar tempo a interagir com os adolescentes de forma positiva, dando feedback positivo dos seus comportamentos e feitos; promover o envolvimento dos adolescentes em actividades positivas (por exemplo, atividades desportivas); monitorizar a localização e a utilização das plataformas digitais e redes sociais, com o objectivo de garantir a segurança dos adolescentes; falar com os adolescentes sobre as suas preocupações, perguntando directamente sobre automutilação e pensamentos suicidas.
- Incentivar os adolescentes a realizar atividades que lhes permitam alargar o seu círculo social, conhecendo diferentes amigos em diferentes contextos.
- Procurar ajuda. As situações de automutilação, tentativas de suicídio e suicídio são muito complexas. Um Psicólogo pode ajudá-lo a compreender e a resolver a situação, ajudando o adolescente e ajudando os Pais a ajudar o adolescente.
- Se o adolescente tem um plano e meios para atentar contra a própria vida é importante agir de imediato. Não deixe o adolescente sozinho e contate um número de emergência (112 – Serviço Nacional de Socorro).
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