Medos e Fobias
O medo é uma das emoções humanas básicas. Funciona como um instinto – o nosso corpo responde com medo sempre que nos sentimos inseguros ou em perigo. O medo ajuda a proteger-nos: mantém-nos alerta para o perigo e prepara-nos para lidar com ele, caso seja necessário. O medo pode ser muito intenso ou apenas ligeiro, durar mais ou menos tempo, dependendo da situação e da pessoa.
O medo é saudável quando nos ajuda a ter cuidado perante uma situação que pode ser perigosa. Por exemplo, sentirmos medo de águas profundas quando não sabemos nadar bem. Mas, por vezes, o medo é desnecessário e gera mais cuidados do que os que seriam necessários para a situação (por exemplo, ter medo de falar em público).
Tendemos a evitar as situações que nos geram medo. No entanto, esse evitamento só reforça o medo, não nos ajuda a ultrapassá-lo. Podemos ultrapassar medos desnecessários se nos dermos a oportunidade de aprender sobre a situação e nos habituarmos a ela. Por exemplo, se tivermos medo de voar, podemos fazer o esforço para andar de avião e nos habituarmos às sensações desconfortáveis da descolagem ou da turbulência, arranjando estratégias para lidar com o nosso receio e insegurança. Enfrentar, gradualmente, o nosso medo pode ajudar-nos a ultrapassá-lo.
As fobias são medos irracionais. Quando temos uma fobia ficamos ansiosos e com medo perante situações e objetos muito específicos, como por exemplo, aranhas, alturas, espaços cheios de pessoas ou aviões.
O medo é um sentimento normal e positivo perante situações em que existe uma ameaça real. Por exemplo, se estivermos a ser atacados numa situação de assalto o medo vai ajudar-nos a reagir. O medo só se torna uma fobia quando nos sentimos ameaçados, de modo exagerado ou irrealista, perante uma situação ou objeto que não representa uma ameaça. Sabemos que não há razão para tanto medo, mas mesmo assim não conseguimos evitar. Por exemplo, mesmo sabendo que as aranhas não são venenosas e não nos vão morder, isso não reduz a nossa ansiedade.
Quando temos uma fobia podemos dar-nos a muito trabalho para evitar as situações ou os objetos que nos obrigariam a confrontar o nosso medo. Sempre que somos confrontados com essas situações ou objetos ficamos muito ansiosos e podemos até ter um ataque de pânico.
Existem muitos tipos de fobias, desde as mais simples – por exemplo, fobia de cobras, do escuro, de voar, de ir ao dentista ou de ver sangue – às mais complexas – por exemplo, fobia social (sentir-se ansioso na presença de outras pessoas, com medo de ser criticado ou de fazer alguma coisa embaraçosa) ou agorafobia (medo de estar em espaços abertos ou em situações das quais seja difícil escapar ou sejam embaraçosas, por exemplo, ir a um Centro Comercial, viajar de autocarro ou mesmo sair de casa).
A natureza dos medos e fobias das crianças e adolescentes vai mudando à medida que crescem e se desenvolvem e incluem o medo de estranhos, das alturas, do escuro, dos animais, de sangue, de insectos ou de serem deixados sozinhos. As crianças entre os 6 e os 12 anos têm medos que reflectem as circunstâncias reais do que lhes acontece (por exemplo, têm medo de sangue, injecções, acidentes, desastres naturais, do divórcio dos pais ou da escola).
Quando as ansiedades e os medos persistem, podem surgir problemas. Por muito que os Pais desejem que, com o crescimento, os medos desapareçam, algumas vezes acontece o oposto, e os medos tornam-se maiores e mais intensos. A ansiedade transforma-se numa fobia ou num medo extremo e persistente.
É mais ou menos fácil para os Pais identificar quando os filhos se sentem excessivamente inseguros ou ansiosos acerca de alguma coisa ou situação. Alguns sinais de que o nosso filho pode ter medo ou fobia de alguma coisa/situação:
- Tornar-se mais dependente, impulsivo ou distraído;
- Momentos de nervosismo;
- Problemas em adormecer ou dormir mais do que é habitual;
- Palmas das mãos suadas ou respiração mais rápida;
- Dores de cabeça ou de barriga.
Pode ser exaustivo e muito aborrecido sentir o medo intenso que acompanha uma fobia. Podemos ficar desiludidos e frustrados por perder oportunidades e envergonhados por ter medo de coisas com as quais as outras pessoas parecem não ter problema algum. As fobias podem ser difíceis de tolerar, quer pelas crianças e adolescentes, quer pelos adultos que as rodeiam.
Como podem os Pais ajudar os filhos a lidar com um medo ou fobia?
- Reconhecer que o medo é real. Por muito trivial que o medo possa parecer, se o seu filho o sente como sendo real, está a provocar-lhe sofrimento. Ser capaz de falar sobre o medo, ajuda (muitas vezes, as palavras retiram algum poder aos sentimentos negativos).
- Não menosprezar o medo como forma de fazer com que o seu filho o ultrapasse. Por exemplo, dizer “Não sejas ridículo! Não existem monstros nenhuns debaixo da cama!” pode fazer com que a criança vá para a cama, mas não fará com que deixe de ter medo.
- Simultaneamente, não evitar a situação que provoca medo ou dar demasiada atenção à criança ou adolescente quando chora. É preciso confortar, claro, mas sem exagero. Dar demasiada importância à situação não vai diminuir a ansiedade. Por exemplo, não devemos passar para o outro lado da estrada para evitar um cão porque a criança tem medo de cães. Isso só reforçará a ideia de que os cães devem ser temidos e evitados.
- Não forçar a criança ou adolescente a enfrentar o medo ou a fobia. Só é possível ultrapassar um medo ou fobia com uma exposição gradual e controlada ao objecto ou situação que causa ansiedade. Por exemplo, se a criança tem medo de cães não devemos pressioná-la a estar perto de cães. Podemos, em vez disso, começar por mostrar-lhe imagens de cães em livros ou os cães presos nas lojas de animais.
- Falar com a criança ou adolescente sobre o seu medo ou fobia. Mostrar empatia e oferecer informação.
É importante lembrar que as fobias são comuns e podemos sentir que as nossas não são perturbadoras o suficiente para afectar a nossa vida diária. No entanto, se evitar o objecto/actividade/situação que despoleta a fobia interfere com a vida quotidiana da criança/adolescente ou os impede de fazer coisas que desejam (por exemplo, deixar de sair com os amigos, deixar de viajar ou evitar determinados locais), devemos procurar ajuda .
É preciso coragem e paciência para enfrentar uma fobia. Existem intervenções eficazes que nos permitem ultrapassar as fobias. Um Psicólogo pode ajudar-nos a ultrapassar uma fobia.
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